quinta-feira, setembro 13, 2012

Pensar Gregor Samsa, no hoje.

Disseram que um dia todos os restaurantes serão fechados, todos os cafés desertos, todo o comércio inerte.
    E disseram que as heranças e os impostos perderão valor. Assustaram-me. Assustaram-me ao dizerem, ainda, que o Ser Humano (esse inventor de tudo o que é bom e mau) tornar-se-á um inseto. Que todos se afastarão dele com repugnância e medo. E nojo.
  Então: sentei-me e ouvi. Em círculo, como se de uma reunião ancestral se tratasse; ouvi vozes estranhas dizerem que o Homem inventou tudo mas nunca aprendeu a viver com o medo, a sentir as emoções, a caminhar de mãos dadas com a vida e a morte. Iludindo talvez, dentro de si, enquanto humano, a aspiração de se tornar um deus.
  Erros: são necessários, reconhecê-los é ser sapiente.
   Ainda ouço o que disseram, ainda ouço as vozes, ao longe, como um eco. Guardo-as, em mim, como guardo cada pedaço de sentir. Também temo os insetos mas perante o estranho, aprende-se muito, inauguram-se hinos de sapiência e no seio da demência que o homem cada dia, mais e mais, se aproxima nunca esqueçamos que os sonhos devem ser vigiados pois se nos deixarmos adormecer perante ou durante eles, os sonhos, podemos transformar-nos em insetos e pior do que ser inseto é não saber lidar com a nova condição (impessoal). E não saber desvalorizar o medo.
                                                   “Pensar Gregor Samsa, no hoje – baseado na novela de Kafka”