domingo, março 21, 2010

Do Som do Rio

E às vezes o som dos outros é o equilíbrio em nós.

Disseram: o rio corre. Não sei se o rio corre perto das raízes daquela árvore. Sei que me vejo nas águas deste rio como quem se vê ao espelho. Sinto-me nas raízes daquela árvore como quando pela noite chegas e perfumas o amor que aprisiono no lado esquerdo do peito. Sou uma linha das raízes daquela árvore, uma apenas.
Linha curva, frágil e imperfeita.
Vejo-me à tarde, já tarde moça, de vestido negro com a bainha desfeita, renda gasta pelo tempo, nas margens deste rio. Vejo pedaços de pétalas, flores sem sépalas; sinto o perfume das manhãs que guardas em ti e de novo me sinto descer pelos dias como este rio que não sei de onde vem, nem para onde vai.
Mas eu sei, o que os outros não sabem: há rosas no mar.
Disseram: o rio corre. E não disseram mais nada. Depois inventei novas nascentes e nelas entreguei os meus segredos. E destes gestos encobertos os deuses fizeram os desertos.
Disseram: o rio corre. E não disseram mais nada.
Depois das nascentes e dos desertos sei que um Anjo pintou o céu de azul e as colinas vestiu de verde. Sei que o canto do violino tem o silêncio no ventre. Apenas não sei quantos dias tem a minha vida nas tuas mãos, ou o peso do meu tamanho em ti.
E neste rio que corre posso ser nascente, deserto ou som inquieto.

2 Comments:

Blogger José Leite said...

De facto vivemos em interacção permanente ninguém é uma ilha isolada no mar social...

8:43 da manhã  
Blogger Wanderley Elian Lima said...

Temos que mudar o curso do rio de nossa vida, arriscar por outros caminhos em busca de nossas oportunidades de ser feliz.
Beijos

11:55 da manhã  

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