Imagem no Silencio...

"Olhando a minha volta, tenho muitas vezes a impressao de que, para muitas pessoas, o tempo da vida se parece com um grande armario cheio de gavetas que elas tem de encher o mais depressa possivel... Estamos no tempo, mas nao temos tempo... Podar o ouvido, o olhar e o coraçao, tal como, na enxertia, se podam os ramos para que a flor nasça e se transforme em fruto."

Susanna Tamaro, Cada palavra e uma Semente

Encostou a cabeça, repousou o ouvido no tronco de uma Betula para ouvir a seiva no seu interior. Tudo nela era o fruto de um pomar do imenso Sentir.

- Que sons nos fazem falta? Podera o Silencio ter cor, sentimentos? Qual o sabor do Silencio? Como se encontra o Silencio? Onde mora? - Perguntava a imagem da fada, num dialogo introspectivo.

No Silencio doce de uma noite ao luar, essa voz interior, uma voz palida e rouca, de tanto gritar pela vida, dizia-lhe:

- O Silencio e primo da Noite, irmao das Estrelas. Ha coisas que o Silencio diz, outras que prefere calar... O Silencio pode ser uma marca na tabua. O Silencio gosta de morar separado da multidao porque os que vivem num sitio tranquilo sao respeitados pelos numerosos deuses no ceu. Ha Silencio nas rochas calmas, rodeadas pelas nuvens brancas do Sentir...

- O tempo esta sem tempo, despacha-te... O Silencio quer encontrar-se com o luar. - Dizia-lhe a Voz.

Ouvindo estas palavras, desejou ser a Lua, ter mil pedaços do Silencio, nomes vazios, caixa de sentidos de quem so quer amar...

-Se o som adoça, grita no prazer de Sentir, se o som amarga, foge para os Bosques do Silencio e deixa a Lua entrar na janela do teu Ser... - Continuou a Voz.

Em Silencio desapareceu, magicamente, nos Bosques do Sentir... Consta-se que a tocamos sempre que estamos nas margens do Silencio e perto de Amar...