sexta-feira, abril 09, 2010

TERRA DOS POBRES

(Imagem de Bruno Silva- Olhares)
"Eu nunca fui rei
Nem quero ser;
Mas quando sinto que adormeces
Na palma da minha mão
Imagino
Que sou um Czar da Rússia,
Um Xá da Pérsia."
Nizar Qabbani

As pedras levantaram-se. Ergueram-se, como corpos à procura de sol, e nesses bocados de escuridão a voz perguntava: “Quem és? Quanto és?”
- “O Vento diz-me rei. A Lua chama-me amante. Piso a Terra molhada e sinto-me rei. Gosto de ser rei quando piso a Terra com água, quando sei que ali estás em cada pedaço de lágrima vertida. Não me sinto amante: mentes, Lua – amaldiçoo-te, terás muitas fases.
Faço-me dono da Lua, vizinho do Vento. Caminhante num deserto de ausências.
Sou uma voz maior que as constelações que guardas no peito. Sou um veleiro – talvez. Um veleiro imperfeito. Pequeno. Simples. Frágil: demasiado.”
As pedras levantaram-se. E no verso das lápides lia-se: “Nunca saberás quem és. Quanto és: nunca mostres.”
E hoje não sei quem sou. Escrevo. Escrevo nas novas lápides, apenas: quanto sou.
Apago as vozes que me perguntam “Quem és? Quanto és?” com a ajuda do Vento, da Terra molhada, das Luas e dos desertos que nos habitam: (humanos).
Esqueci quem sou.
Habita-me intensidade: tanta. Infinita. E ser assim basta. Que importa ser rei?

1 Comments:

Blogger Wanderley Elian Lima said...

Cada um é um Rei a seu modo e seu reino onde sua imaginação constrói.
Beijos

10:38 da tarde  

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