domingo, janeiro 20, 2013

(imagem de Duy Huynh)

“Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo.” Pitágoras

   Acorda. Deixa que te fale dos sonhos que esta noite ficaram por sonhar. Enquanto dormias, eu adiei os meus sonhos para que eles amparassem os teus.
   Imaginei um pássaro, esvoaçante, de asas coloridas, vindo de Sul – onde as terras são mais quentes e profícuas; onde os sonhos aparecem como nascente para me visitarem nesta noite que foi a mais longa, do ano. Visitaram-me sonhos a poente e com eles todos os pássaros que as tuas mãos não são capazes de segurar.
  Então recordei-me: de que modo poderás guardar um pássaro, como quem guarda um tesouro de algibeira, no coração?
 Demorei-me horas com esta fantasia, sob a forma de pergunta e dela não obtive resposta. Pensei no estado de desespero, nas horas dos notívagos, dos insones, dos dementes e dos que a sociedade rejeita e obtive a solução: agarrei-me nas asas do sonho, como pássaros vindos de poente ou nascente – de um lado qualquer onde os nomes não chegam porque nada de verdadeiro se define, apenas se sente (tal como o Amor). Agarrei-me nessas asas, com afinco, e entreguei o meu coração nas torrentes da imaginação.
   Foi então que te avistei, como neve branca. Estavas ausente. O lugar onde te encontravas assemelhava-se a um lugar onde um deus pode morar – espécie de panteão. Tudo branco, não havia ouro ou dourado como sempre pensei as cores onde deuses habitam.
  Estive horas inteiras a observar o branco e a ideia da pureza assolava-me o espírito.
  Neve. Neve. Neve. Neve. Neve. Neve. Neve.
  Cada vez mais branca, mais pura e intensa.
 Interrompi a imaginação; parei os sonhos (como quem deixa um guarda chuva num vão de escada, para a ocasião) e perguntei-me:
“Serão os sonhos, dos outros humanos (ou dos que assim se definem) da cor dos meus?” e nesta noite escura eu soube que o branco esteve lado a lado comigo, para me habitar ou de quando em vez, me visitar – como réstia de luz, tão-somente.
“Se me disseres da cor dos teus sonhos, dir-te-ei da cor dos meus e se neles permaneceres, dir-te-ei que esses sonhos são teus.” de Sandra Maria Ferreira

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Quisera dizer-te a cor.

2:45 da tarde  

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