segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Como se não houvesse amanhã, ao longe

Marc Chagall

Como se não houvesse amanhã e perante este lago imenso de neblina que avisto, houvesse um deus que me dissesse que o escuro dos outros,é branco e que ainda que todos vejam escuro, sombrio; nada mais é do que branco.
Como se não houvesse amanhã eu insisto nas veredas tapadas pelos calcanhares dos que se dizem Aquiles, sem o ser; insisto nos olhares de Linceu - sagazes porque permitem ver mais na opacidade. Quero lá saber se o amanhã não chega (ele pode não chegar!); já não me assusta e ao longe já passou, num barco que encalhou nas montanhas a dor.
Como se te dissesse todos os sons que as palavras escritas não serão, nunca, capazes de inaugurar...

Ao longe um rapaz grita; uma bola estilhaça e do outro lado alguém sussurra a palavra: "Amor". Presente, presente, presente!

Como se o amanhã não se queira demorar em mim (não sei se ele existe; ou eu!) mas como se hoje todas as palavras fossem uma chuva escassa dos sentidos que o sangue pede, no interior.

Todos os amanhãs tapam feridas que o hoje precisa.