Da Velhice - coisas minhas
Acerca da palavra "Obrigação":
Num diálogo com um ser humano extra-sensorial, dono de uma inteligência infinita e, por isso, astuto. Talvez a pessoa que me ensina a ser um ser humano melhor e, por isso, também, a gostar mais dele.
Falamos das minhas tarefas de apoio e intervenção diária (compreenda-se dia e noite, se necessário) junto da minha (reclamo o uso do possessivo) tia-avó, acamada há quatro anos ou cinco (já nem conto, todos os dias são longos, imensos e, por isso, me perco); ela, esta tia do meu pai, antes de ter sido minha, tem noventa anos de idade.
E, nesta conversa afirmei: “Se eu não tivesse a minha tia, se eu pudesse bater a porta e fugir! Mas, não posso: onde quer que eu fosse, levaria comigo esta pessoa e nunca estaria melhor.”
E acrescentei: “ é uma obrigação minha cuidar dela.”
Ora bem, gerou polémica: “Obrigação? Coitada da pessoa! Não a tratas porque gostas dela?”
Acrescentei: “obrigação é sofrimento e carinho. São dívidas de afecto.”
Falamos de património herdado: “Duro! Pedra. Frio. Dor.” – pensei.
Que importa se outros, pouco humanos, nada humanos, fazem este tipo de intervenção para receber uma herança? Eu não o faço. Não o faria nunca e nunca o fiz. Poderia utilizar todos os tempos verbais, possíveis e impossíveis, do verbo fazer porque todos eles seriam e são insuficientes para esta “obrigação”.
Fiquei a pensar na palavra “obrigação”, na génese da mesma. Fui à raiz.
Na génese da palavra “obrigada” está o compromisso de retribuir aquilo que nos foi dado. Por isso, o faço – retribuo. Nesta parte fica o carinho: dádiva. E no esforço de todos os dias: o sofrimento.
Nenhum ser humano que trata outro o faz por amor, mas por compaixão. E na génese das paixões vive a dor. Quem ama alguém e se vê na tarefa de o auxiliar, devido à sua decadência e incapacidade, não o faz por amor: é obrigação.
Num diálogo com um ser humano extra-sensorial, dono de uma inteligência infinita e, por isso, astuto. Talvez a pessoa que me ensina a ser um ser humano melhor e, por isso, também, a gostar mais dele.
Falamos das minhas tarefas de apoio e intervenção diária (compreenda-se dia e noite, se necessário) junto da minha (reclamo o uso do possessivo) tia-avó, acamada há quatro anos ou cinco (já nem conto, todos os dias são longos, imensos e, por isso, me perco); ela, esta tia do meu pai, antes de ter sido minha, tem noventa anos de idade.
E, nesta conversa afirmei: “Se eu não tivesse a minha tia, se eu pudesse bater a porta e fugir! Mas, não posso: onde quer que eu fosse, levaria comigo esta pessoa e nunca estaria melhor.”
E acrescentei: “ é uma obrigação minha cuidar dela.”
Ora bem, gerou polémica: “Obrigação? Coitada da pessoa! Não a tratas porque gostas dela?”
Acrescentei: “obrigação é sofrimento e carinho. São dívidas de afecto.”
Falamos de património herdado: “Duro! Pedra. Frio. Dor.” – pensei.
Que importa se outros, pouco humanos, nada humanos, fazem este tipo de intervenção para receber uma herança? Eu não o faço. Não o faria nunca e nunca o fiz. Poderia utilizar todos os tempos verbais, possíveis e impossíveis, do verbo fazer porque todos eles seriam e são insuficientes para esta “obrigação”.
Fiquei a pensar na palavra “obrigação”, na génese da mesma. Fui à raiz.
Na génese da palavra “obrigada” está o compromisso de retribuir aquilo que nos foi dado. Por isso, o faço – retribuo. Nesta parte fica o carinho: dádiva. E no esforço de todos os dias: o sofrimento.
Nenhum ser humano que trata outro o faz por amor, mas por compaixão. E na génese das paixões vive a dor. Quem ama alguém e se vê na tarefa de o auxiliar, devido à sua decadência e incapacidade, não o faz por amor: é obrigação.
Quem assiste à decadência de alguém, faz da sua vida uma decadência também: quando há afectividade.
2 Comments:
Linda papoila, como gostei do teu texto! senti-me envolvida nele por palavras e acções, e "obrigações" por vezes também ando nesta confusão de ajudas e sentimentos...
Que bom teres aparecido, perdi o teu contacto e andava com saudades dos teus espaços.Que bom existirem papoilas sonhadoras.
Beijos
Olá
Realmente os sentimentos se misturam e se confundem. Amor, compaixão, obrigação, mas o que importa não são esses sentimentos, mas sim o consciência de ter fito o melhor que se pode.
Beijos
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