Seremos raiz de orvalho, apenas?
Nos dias em que somos pássaros de papel sem asas – neva.
Nos dias em que não sabemos o que somos
nem os lugares que nos habitam – ouvem-se palavras como cânticos eternos; mendiga-se amor, ou pedaços do mesmo, ou do que se julga ser.
E parecemos pedaços, de pedaços, já despedaçados, de pássaros que se perderam no Outono,
num dos Outonos da vida.
E quando já tarde, ou mesmo noite, nos encontramos nas folhas virgens que o Outono esqueceu
somos pedaços de pó que se ergue ao Vento.
Somos vontade, das vontades, de mais.
E
nas asas de gaivota que o Tempo prende,
nos galhos das árvores como quem esconde tesouros: às vezes se solta o choro.
E choramos.
Choramos sem saber de onde vem o choro. Sem saber porque são frios os Invernos
que trazemos em nós.
Às vezes, só às vezes, somos um mundo tão longe,
Ainda que sejamos pássaros do mesmo céu.
Seremos raiz de orvalho, apenas?
1 Comments:
Há momentos que estamos distantes até de nós mesmos. Mas que bom que podemos sempre reinventar a vida nas folhas de papéis-pássaros...
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