quarta-feira, abril 21, 2010

QUASE


“E por vezes as noites duram meses e por vezes os meses oceanos.” David Mourão-Ferreira
Aos que a vida amargura,

Há um mundo a dois passos deste onde quase se sente paz.
Ela foge como quem foge do que assusta, mesmo sem ter medo. Foge da amargura que a fez crescer. Deste nevoeiro que não se dissipa. Ao longe a praia (quase a vê) e, mesmo no Inverno, todos os outros lhe parecem veraneantes, o mar deles é sempre tão azul e perfeito, parecem sorrir (quase os ouve).
E ela uma sombra: uma criatura na sombra, apenas. Uma criatura perdida e tão longe do mundo que quase observa. Uma desconhecida.
No seio de um lugar abraçado por um pântano, sem luz, sem sol, sem calor. Tão fria a Alma. Tão sentido o Tempo. Quando o medo vem morar, lado a lado, neste mundo (de poeiras) que a cerca, o Tempo deixa de ser uma convenção. O Tempo, apenas, existe quando está em fuga: as lembranças que doem, as feridas abertas, um sangue que não corre. O Tempo é filho da amargura. Talvez seja parente do frio, também.
Não saber quem pintou o Sol. Não saber quem abandona uma pintura assim. Talvez viver seja assim, também: aceitar que o Tempo existe. Talvez.

Talvez amanhã o Tempo esteja em fuga. Talvez o pântano desapareça e as estrelas não adormeçam e o dia nunca acabe. Talvez.

1 Comments:

Blogger Wanderley Elian Lima said...

Talvez um dia possamos ser felizes.
Beijos

11:19 da tarde  

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