sexta-feira, maio 07, 2010

TREVOS DE MAIO


“As falhas dos homens eternizam-se no bronze, as suas virtudes escrevemos na água.” William Shakespeare

No fundo do rio há água que sobe, água que desce.
Há água que parou.
No fundo do rio como em tudo na vida há o que se vê, o que não se vê e o que apenas alguns olhares sabem alcançar: no rio que somos.
No fundo do rio um peixe pinta o mar de azul, às vezes tinge o céu quase da mesma cor, às vezes acrescenta-lhe nuvens. Outras vezes, tantas, as nuvens choram.
No fundo do mesmo rio alguém inventou a noite e colocou estrelas-do-mar a dançar nas ondas do mar e no céu estrelas cintilantes que velam os sonhos guardados no fundo, mais fundo, do rio – como se o rio fosse um baú e o mais fundo fosse um conjunto de gavetas em sentido decrescente.
Há tantos rios quanto de humano o Homem pode Ser e nesta geografia de sentidos que vai do rio ao mar não há fronteiras, apenas água. Tanta água quanto maior é o sentir.
E tudo nas ruas desses rios vem de um lugar fora do Tempo, sem data nem nome, onde a fuga ao Tempo acontece e os Trevos de Maio nascem.
E nestes rios somos barcos de papel.