quinta-feira, junho 10, 2010

Junto ao Sol, um rio




“Metade de nós é esta ferida da ausência,
o desejo do não-eu, do não-lugar,
a procura na palma da mão das linhas que já lá estiveram ou
que poderiam lá estar.” A Fuga, Nuno Ramos

Sento-me em frente ao mar
e nesta identidade que hoje me resta
apenas vejo um rio.
Faço-me nas palavras porque a vida não basta.
Quando nada sou, tu cabes nas minhas mãos.
E nos lugares onde permanece um sopro eflúvio de infinito: recebo-te, guardo-te
como o melhor: dentro de mim.
Junto ao sol, um rio.
E o que nas ruas fica das vozes ao fim do dia
é um céu sem pássaros.
Asas de gaivotas no mar dos outros
- rio meu-
nomes molhados nas ruas
histórias sem terra, sem água.
Desertos, de quem partiu, nas mãos de quem fica.
Junto ao sol, um rio: ausências narradas.
Devoção no detalhe.
Junto ao sol busco a ternura sem pressa: um rio.
Somos comboios que chegam, vindos de onde e partem para lugares incertos.

2 Comments:

Blogger Canto da Boca said...

Belo! Belíssimo! Detive-me nas ruas vazias, onde outrora os burburinhos enchiam-nas. Mas continuam cheias do quase nada. E na necessidade da escrita para existir...

7:54 da tarde  
Blogger Canto da Boca said...

Este comentário foi removido pelo autor.

7:54 da tarde  

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