quinta-feira, novembro 04, 2010

A condenação


“nós é que somos lentos nós é que inventamos os intervalos
de onde apenas espreitamos aquilo que poderíamos ter sido” Daniel Gonçalves

Pena. Uma pena, – lamento perpétuo – condenação. Condenação do amante. O amante mata o Amor de cada vez que não vê nos braços abertos e, por isso, descobertos, um verso de um poema em construção. De cada vez que toca as mãos sem saber as linhas de ouro que cosem todas as outras artérias que, naquele momento, de braços descobertos ele traçou – uma mão nunca está completa: as linhas que a sustentam modificam (costuma ser por ordem desse vilão de barbas rígidas que deixou apodrecer as maçãs: o Tempo) – hoje o culpado foi o amante.
Porquê? O amante pode mais do que o Tempo. A morte diz-lhe isso quando aparece: “Um grande Amor não morre nas mãos do Tempo”.
E essa pena que cumpres é uma fuga de ti mesma, nessa bicicleta que compraste para fugir ao Tempo apenas foges de ti, ainda mais. Ela, esse transporte de duas rodas (olha a ironia do número!), não sai do lugar. Por isso ainda não sabes o nome dos sítios que a tua mão tem e a tua mão é uma parte de ti.
Condenada. Foges.
Dentro de ti há corvos e céu cinzento.

Nasceste para cumprir a Eternidade e foges porque ainda não sabes vesti-la.

1 Comments:

Blogger Wanderley Elian Lima said...

Não somos livres ,porque ainda não sabemos libertar-nos das amarras do nosso inconsciente.
Bjux

6:53 da tarde  

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