quarta-feira, novembro 03, 2010

Quase uma Carta de Amor


Algures sem Tempo, num dos Outonos da Vida...

Sei que ontem tive auto-estima, simplicidade e plenitude. Vi-te nos braços, Amor. Julgava-te morto: quando um dia pensei ter-te conhecido e depois, num momento do Tempo, o vi morrer (o Amor – como quem diz o teu nome ou simplesmente água).
Olhos de engano os leve o vento da má sorte com um raio de mil trovões. E se os olhos que enganei foram os meus, direi: o Amor existe.
Quando te disse que o Amor não existe, não sabia que ele pode viver um minuto ou meio segundo apenas mas durar a vida inteira ou ser eterno, talvez. Depende da forma como ele aparece, quem o traz pela mão e o modo como aquele que o recebe, o guarda.
E se o teu nome me voltar a escapar, como se de um engano se tratasse, a sede nunca mais terá o mesmo sabor e saibas que no cofre que levo comigo desta vida espero guardar com preciosidade o desejo de no último sopro de vida dizer o teu nome, que é como quem acredita no Amor. Um dia o Amor existe.
Hoje sei.
Hoje sei: quando te amei, amei-me de verdade.
(Maria Cereja acrescentara as seguintes linhas:)

Quando tenho sede digo o teu nome.
Dar nome à sede: é o mesmo que ter sabido viver e ter sabido viver é já não ter vida.

Mais tarde Maria Cereja soube que toda a sua vida tentou escrever quase uma carta de Amor e que nas cartas de Amor a vida não cabe.
Um dia a morte veio buscá-la, já a sede tinha morrido também.

E os desejos que ficam por cumprir em vida são letras opacas de um Amor doente.