A dona do Tempo
Floral Interior by Michael Klein
“It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.”
Invictus, William Ernest Henley
Neste fim de tarde de Outono já não há lírios nos terrenos dos vizinhos: há, apenas, a imensa saudade deles no meu peito que trago aberto como uma ferida que espera o vento, num campo de searas onde o Amor não existe.
Entro na sala, na tua sala – aquela que o Tempo não pode – e sinto as tuas mãos envoltas em mim como um novelo por desfiar, o único conjunto de fios que o Tempo não toca. E sei-te como ontem, ou um dia antes ou depois de ontem – um Tempo que já não sei porque aqui não deixo demorar o Tempo. Foi Deus, um deus que se sentou no Tempo que te devia pertencer e hoje, neste fim de tarde de silêncios, sei-te cada traço do rosto porque te és em mim como uma parte que me faz andar, sentir e desejo-te mais ainda. Desejo-te como naquele inicio de madrugada insepulta, no topo da montanha da capela onde costumávamos ir. Quase sinto na face o beijo do Vento com o ventre promissor de saudades – as mesmas parentes do Tempo, esse que tudo rouba, que tudo devora, esse velho barbudo, de barbas rígidas e mãos secas, gretadas, esse que deixou apodrecer uma a uma todas as maçãs. Quase te sei toda a vida nesse abraço que a distância não mede. Os teus olhos: tens olhos de Deus, ainda os vejo como a única luz que entra neste sítio sem nome, em todos os inícios de madrugadas insepultas. Os meus pés no meio dos teus pés como quem embala uma criança e no peito, no meu peito, aquele que já não me pertence porque to doou, a vontade de ser de novo o sonho que ficou intacto desde que partiste.
Continuo no topo da montanha, mesmo dentro desta sala, a tua sala onde os crisântemos, os últimos que colhestes, nunca chegaram a morrer – porque aqui o Tempo não entra, aqui subo à montanha com o mesmo desejo de ser uma vez mais em ti, Amor.
Ou tão-somente um lugar sem nome, que o Tempo não toca.
“It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.”
Invictus, William Ernest Henley
Neste fim de tarde de Outono já não há lírios nos terrenos dos vizinhos: há, apenas, a imensa saudade deles no meu peito que trago aberto como uma ferida que espera o vento, num campo de searas onde o Amor não existe.
Entro na sala, na tua sala – aquela que o Tempo não pode – e sinto as tuas mãos envoltas em mim como um novelo por desfiar, o único conjunto de fios que o Tempo não toca. E sei-te como ontem, ou um dia antes ou depois de ontem – um Tempo que já não sei porque aqui não deixo demorar o Tempo. Foi Deus, um deus que se sentou no Tempo que te devia pertencer e hoje, neste fim de tarde de silêncios, sei-te cada traço do rosto porque te és em mim como uma parte que me faz andar, sentir e desejo-te mais ainda. Desejo-te como naquele inicio de madrugada insepulta, no topo da montanha da capela onde costumávamos ir. Quase sinto na face o beijo do Vento com o ventre promissor de saudades – as mesmas parentes do Tempo, esse que tudo rouba, que tudo devora, esse velho barbudo, de barbas rígidas e mãos secas, gretadas, esse que deixou apodrecer uma a uma todas as maçãs. Quase te sei toda a vida nesse abraço que a distância não mede. Os teus olhos: tens olhos de Deus, ainda os vejo como a única luz que entra neste sítio sem nome, em todos os inícios de madrugadas insepultas. Os meus pés no meio dos teus pés como quem embala uma criança e no peito, no meu peito, aquele que já não me pertence porque to doou, a vontade de ser de novo o sonho que ficou intacto desde que partiste.
Continuo no topo da montanha, mesmo dentro desta sala, a tua sala onde os crisântemos, os últimos que colhestes, nunca chegaram a morrer – porque aqui o Tempo não entra, aqui subo à montanha com o mesmo desejo de ser uma vez mais em ti, Amor.
Ou tão-somente um lugar sem nome, que o Tempo não toca.
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