quarta-feira, dezembro 15, 2010

Rastos de sangue


Havia um gigante devasso que pensava conquistar as belezas aparentes. Um dia faltou-lhe um braço, no outro uma perna, um dente, cada dia uma amputação. Difícil seria o dia em que ficasse sem o coração – podiam levar tudo (cada dedo, cada fio de cabelo, cada mão, …) menos o coração. Sem esta caixinha, o gigante, ainda que devasso, não podia amar, não podia guardar sentimentos.
Aos poucos, lentamente, tão lento como tudo aquilo que dói, que dilacera, que mata, que destrói e anula, foi ficando um rasto de sangue quase sem sabor, sem identidade. Tornou-se uma mancha sem forma, que nem o Tempo quis chamar para si, rejeitada e feia.
Um dia, um daqueles dias que o Tempo não aprisiona, porque é especial, um ser qualquer, um ser muito mais do que um qualquer, um daqueles seres que parecem distantes, diferentes, e, por isso, ausentes do Tempo comum, quis saber tudo sobre a mancha. Aos poucos, lentamente, como todas as cinzas que saem dos escombros ou das casas assombradas, a mancha ganhou cor, pés, mãos, braços, dedos, … e, por fim o coração.
Um dia alguém acaba por ver numa mancha de Sangue, um coração. Um dia hás-de querer que anoiteça depressa para seres sentimento no coração de quem vê no escuro. E já não importa o teu tamanho: gigante ou anão, apenas queres ser um rasto de sangue no corpo de alguém.

2 Comments:

Blogger Wanderley Elian Lima said...

Não existe coração de pedra, que não amoleça frente ao amor.Todas as dores,as amputações , o sangue serão banidos à sua chegada.
Bjux

11:20 da manhã  
Blogger Just by myself said...

Impressionam-me as sombras que revelam suas palavras.

Enon
http://enonalone.blogspot.com/

5:31 da tarde  

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