quarta-feira, setembro 09, 2009

Monólogo do Idoso

“O excesso de luz cega a vista. O excesso de som ensurdece o ouvido. Condimentos em demais estragam o gosto.”
Lao Tsé in versos do Tao Te Ching

Aos que temperam cada gota da existência com moderação e sabedoria,

As mãos do idoso são um monólogo do Tempo. As rugas: a colheita das orações de sabedoria nesses lugares habitados pelo silêncio – tatuagens da solidão.
O idoso acomoda-se onde ninguém quer permanecer. Vive preso às inânias do passado: recordações.
Os dias e as noites são lugares opacos de sentir o silêncio: morada onde as frases já não chegam, solilóquios de solidão.
A ti que semeias o sentido profundo das coisas mínimas e valorizas o gesto, ser-te-á dada a colheita: terás pássaros de asas abertas que te afagarão as saudades do vivido, nas madrugadas, do silêncio. As tuas rugas serão vielas estreitas onde apenas o Amor passará e conhecerás Anjos que abraçarão os monólogos das tuas mãos (teu viver) e em silêncio percorrerão, lado a lado contigo, nessas rugas estreitas do Amor – lugares.
Rugas de encantos invisíveis, inodoros e insípidos que o vulgo olhar não alcança: onde as Almas ganham voz.
Saibas semear em terra fértil e não sobre cascalhos e um dia a tua colheita receber. Nunca serás rei mas terás um sólio: soubeste viver.