quarta-feira, abril 30, 2008

ROSTO DE MOÇA PERDIDA



"Que eu possa auxiliar a solidao de quem chegou, render-me ao motivo de quem partiu e aceitar a saudade de quem ficou." Oswaldo Begiato

Aos que passam por mim e me tocam com o Olhar de quem sabe Ver,

A ti que coloriste com singelas flores o meu passar e soubeste colocar na Chuva, recordaçoes de um tempo sem par...

Na Ilha do Fogo, o odor sulfuroso da tua Alma invade os meus sentidos. Es vulcao em actividade, tens dentro de ti a força magnetica do Sol. Ao teu lado tres caldeiras dao colorido ao teu Ser. Rastos de Sandalo vem de cada movimento teu dar cor a cada olhar meu. Teu relevo acidentado, orla maritima escarpada e mar bravio, tormentas de tanto Sentir! Quantos Segredos encerras nas tuas montanhas abruptas mergulhando em vales fundos? Ah, essa falesia de lava que te mancha os sentidos, cai a pique no mar, salpicando de leve os meus pes descalços. Toda a Terra abala a tua passagem, soltam os passaros um hino de Amor. Vive em ti uma deserta aridez, desfiladeiro de emoçoes. Confiou-te a natureza uma paisagem inesperada. Trazes dentro do peito o grito perdido de uma Calhandra de Ilheu Raso. Quem te traçou o Ser, Mulher? Ha rostos, mesmo perdidos, que valem mais que todos os Sonhos teus. Ha palavras, meio esquecidas, que no fundo do rio nao podem, eternamente morar.

segunda-feira, abril 28, 2008

BATALHA SEM DONO

"No meu leito nas noites busquei o que amou a minha alma busquei-o e nao o achei. Levantar-me-ei agora e vaguearei pela cidade, pelas praças, lugares amplos hei-de buscar o que amou a minha alma, busquei-o e nao o achei." in Cantico dos Canticos de Salomao

Quem Sou? Quantos ha em mim? Perguntas sem resposta. Porque nada nem ninguem podera alguma vez preencher-se com respostas... Nas maos do Vento me deito e com ele me levanto. Com o raiar do Sol me aqueço e com ele rasgo esta dor que trago no peito. Quem me fez mulher? Porque batalham Dias e Noites, olhos que me perdem e prendem? Desejos de Sonhos, ausencia de palavras, vazios sentidos, abro o peito e nele me deito, nele espreito o que sinto repousar... Ansia de Ser, caminhos que se percorrem de Sentir... Nada me preenche, nada a nao Ser o Amor. Es Tu, força magnetica que me seduz... Es Tu, esse pedaço de luz... Das flores brancas, as mais pequenas a maior força que o mundo tem, abrigo sem dono, casa vazia onde mora ninguem... Ah se um Anjo me devolvesse ao ceu nas asas de uma Gaivota visitaria cada Noite, no teu Coraçao, demorar-me-ia devagar no teu Ser, acrescentar-lhe-ia Sentir porque a Vida e bela quando te vejo Sorrir... Olhar que me prende, nesta teia da Vida, espiral que nao me deixa seguir... Guarda-me pequeno Corvo no amago do teu Ser, mostra-me o que a Vida tem para me oferecer, leva para longe os pesadelos que me fazem sofrer... Pinta com flores brancas o meu Sentir, Anjo perfeito, Mestre, Guardiao... Saltimbanco, louco, poeta ou enamorado de Nadas, os mesmos que a chuva toca e faz Sentir... Gela-me o rosto, aquece-me o Coraçao... Vem, ambos faremos o que nunca todos os Humanos juntos jamais farao... A nossa, a mais perfeita Uniao, lei do Amor, sem escrivao. Batalha sem dono, guardador da Paixao...

quarta-feira, abril 23, 2008

DE NOME ANA, CORAÇAO CIGANO.

"Que da janela eu nao deslinde (...) a visagem ancestral e a minha emoçao seja enfim sedentaria e recem-chegada a noite finde sem dar acordo de si" in Trecho da Praia, Sebastiao Alba

Erra a Vida sem ti. Mulher de inumeros Talentos, precioso Sentir... Dança o mundo, tao pequeno, a teus pes e a Vida rodopia, e cordel nas maos de uma Criança que tem Sonhos no Coraçao e que o novelo do cordel tao fino e fragil as vezes se perde na propria Dança. Sao os passos que trazes dentro desse cofre precioso que encerras em ti e que soltas no Olhar dos Outros, meu tambem, que te faz vestir esse negro xaile, o xaile do fado que te acompanha desde o primeiro grito que ofereceste quando entraste no mundo... Ah mundo, como tudo e tao pequeno a teus pes... E quando pisas a Terra molhada que se abrem fendas no chao, regas as flores com as lagrimas das tuas dores, partilhas o espirito do Gato da sorte que te acompanha no Ser e no Sentir... Quao magica e a Vida para Ti. Despedes-te da Noite com uma singela oraçao, a mais bela que a tua mae te soube ensinar e embalada pelo Sonho adormeces nos braços da Noite, tao escura, quadro negro que a manha pinta com o teu primeiro despertar, sorriso do Dia... Uma saia bem rodada, de flores vermelhas tatuada, um cabide no armario, o armario do teu Sentir! Uma espada na cabeça, dois brincos de princesa e no teu coraçao dois passos de Dança, pura emoçao! Danças com os pes descalços, dança o teu sorriso sem par, dançam as nossas Vidas por te podermos partilhar... Sao Danças, a Vida sao valsas, fados, soliloquios, puro sonambulismo, icone de Amizade...

segunda-feira, abril 21, 2008

MENINA- MULHER

Ja nao existe a menina que atraia os passaros a janela, atraves do olhar. Ja nao vive o Homem que guiava os seus sonhos com a corda do violino. A janela e a mesma, permanece o olhar da menina na mulher e a vontade de Amar. Rasga-se o veu do Tempo. Nunca gostei do Tempo, as vezes ele vem na altura que nao e suposto chegar, talvez porque ha coisas que demoram a vir... Acalentam as grandes Almas Desejos de crianças, Magia de Noites passadas ao luar, presença de Sonhos que ao ver-te, ao Sentir o teu rosto uma Paz no coraçao, um Sorriso no rosto me fazem mendigar... O Tempo passou, permanece a vontade de alcançar Sabor. E tu, Homem do Violino acompanhas com o teu vulto, espirito de outros Tempos o meu Sentir... E o Som desse Violino que comanda os passos da minha Dança. Que mais posso desejar senao um Olhar que prende, que me toca o Coraçao? Recordo os Tempos, momentos gravados em cada ruga das tuas maos e tatuados para Sempre no meu Coraçao...
Foi embora o corpo fragil e pequenino, de lençois me cobriu esta valsa da Vida... O que existe para alem deste branco, pedaço de farrapo que me cobre o Ser? Um manto de Sentimentos que esperam quem os saiba merecer.

Cai o lençol, encerra o acto... A Vida e feita de ciclos, de nadas, de fios descosidos, de filamentos de tecidos... Nao se pode medir o Viver, porque dele depende o tamanho do Querer. Hoje, observo a menina no meu corpo de Mulher, olhar escondido que so quem nao teme despir a Noite, ousara um dia Sentir. Ja nao sei a profundidade da Agua, nesta onda me sinto mergulhar e a Ti ta entrego, sejam Grandes os teus Sonhos, que eu nada melhor te tenho para ofertar: a Simplicidade de um Ser feminino que espera pelo verdadeiro Amar... So tenho uma pergunta: Por onde andaste que me fizeste tanto purgar?

quinta-feira, abril 17, 2008

CENTEIOS DO SER

"Ninguem sabe que coisa quer, ninguem conhece que Alma tem, nem o que e mal, nem o que e bem. Tudo e incerto e derradeiro. Tudo e disperso, nada e inteiro." Fernando Pessoa in Mensagem

Quem sabe como se ama um Coraçao? Qual o Olhar que o segura na mao? Que Segredos esconde esse cofre, despoletador de tanta emoçao? Caminhas sem saber o que querer, desconheces o tamanho da Alma que nasceu so para te merecer. Na incerteza vestes o Coraçao de Paixoes derradeiras e sem guia. Dispersas o Azul que vive no amago do teu Ser

e nesta ansia de prazer das cor aos Rios, aos Mares e ao Ceu, mesmo sem o saber. Cobre-te um lençol que Morfeu para ti mandou tecer. Vives o Desejo mais profundo que mora para la do que a Vida te ofereceu. Tantos sao os Segredos, ramais nas maos da Noite... Imensos verdes ramos que de ti nascem, das raizes mais negras do teu Ser e se erguem como haste em direcçao ao Ceu...

Sussurra o Vento suaves palavras de bem - querer... Sopra de mansinho nos Telhados de quem nao teme saborear o Sentir, partilhar o Ser. Crescem Rosas Selvagens nos campos de Centeio, dentro de Ti! Rosas desenhadas no Silencio, tatuadas na tua pele, revestindo o cofre da tua emoçao... Nos centeios do Ser ouves o Silencio do espirito, aquele que o ouvido jamais alcançara. Ninguem sabe como se Ama um Coraçao. Jamais alguem soube? Nao ha Messias para o Amor. Mas, quem conhece os Centeios do Ser sabe que em todos os sitios que Amar ficara para sempre tatuada, com uma pena de Condor, uma restia de Sentir... Porque lugar Amado e lugar Sagrado.

terça-feira, abril 15, 2008

CRUZ DOS ESPIRITOS

"Os outros fazem o que querem das tuas palavras, ao passo que os teus silencios os enlouquecem." Frederic Dard
Passadas tres Luas abre-se a Passagem Secreta onde poderao, finalmente, repousar os restos de palavras que nao puderam ser ditas, lagrimas. A Espada dos Sentidos na mao, no Coraçao as lagrimas que cristalizam e expulsam da mente o fel das magoas encarceradas. Esta destruido o acervo atroz das feridas sem cicatriz. Começa a escalada pelo Calvario da Existencia. Os olhos postos no Ceu, escadas que a Vida as vezes nao deixa alcançar... Ingreme Subida. Nudez parcial.
O Coraçao e ponteiro da Vida, bussola da Terra, comandante sem navio, Rio sem margens... Cofre de sete chaves onde repousa a Cruz dos Espiritos, dos que carpem pela Vida sem tecto, sem voz nem vez. O Amor e fria tabua que cobre cada degrau da dura escada, espirito vagueante de um bosque de insignias, atomo louco, mascara esquecida no centeio do Ser...

O Amor deixa a Sublime eternidade a espera num cais, encruzilhada de Silencios. Poucas Almas ouvem Caronte anunciar que o barco espera pelos que nao temem a outra margem chegar...

quarta-feira, abril 09, 2008

ALTAR DOS SENTIDOS

"Senhor, nao deixes que eu julgue um homem sem que eu tenha andado durante duas Luas com as suas sandalias." Prece de um Indio Navajo

As vezes nasce no peito a vontade de chorar, aguas presas pelo Ser que teimam da fonte brotar... Purgatorio do Sentir! As vezes, os prados perdem a cor e o Tempo vem tao voraz roubar o Sabor daquilo que nos apraz. Lagrimas do Ser... Sabores enclausurados, rios que querem chegar ao mar. Quem nunca chorou? Quem nunca avistou das montanhas o mar? Quem nunca sentiu necessidade de se deixar naufragar num infinito e profundo caudal? O choro reprimido e falencia do Coraçao, e fio de novelo solto, bainha descosida, carta deitada ao chao. Todas as vezes que um Anjo na Terra chora,

uma estrela no Ceu aparece... Uma nova luz, no Altar dos Sentidos, vinda dos escombros da Vida e rasgo, feixe de cor que cega e ensurdece. Entao, do Choro nasce o Riso, do Olhar um Pedido, do Coraçao uma Prece. Em circulo, duas velas ja por terra, tres petalas de Rosas vermelhas aveludadas... No ar a fragrancia do Jasmim, um tempo sereno, uma recordaçao de um Olhar, de um rosto perdido que as Lagrimas, prece da Alma, neste Altar dos Sentidos fizeram mergulhar... As vezes o Choro adormece, Cavaleiro sem batalha, Louco perdido... E quando ele adormece, sinto que estas comigo... Es um singelo pedaço de historia, instrumento da Emoçao que guardo no meu peito, num cofre chamado Coraçao.

sábado, abril 05, 2008

MORTE DE ORION.

"Poe-me como um selo sobre teu coraçao, como um selo sobre teu braço! Porque e forte o amor como a morte, e a paixao e violenta como o abismo: suas centelhas sao centelhas de fogo, labaredas divinas." in Cantico dos Canticos, Biblia Sagrada

A um Olhar magnetico, intenso, profundo...

Regresso ao Reino onde os Espiritos antigos das florestas vivem em perfeita harmonia. Soltei da Alma o feixe de pecados. Dancei nos braços da Morte. Vi despir a Noite o seu negro veu de magia... Assisti ao nascer do Dia, senti o toque de Eos na primeira Brisa da Manha, soltei um grito como se tambem eu tivesse nascido... E, entao eu Sonhei: Com o Som de um sino, com a despedida do violino, com vozes sibilando antigas profecias... Com Paginas rasgadas, carregadas de Sabor que voavam pelos ceus como Hinos de Amor. Imaginei-me personagem tatuada no quadro perfeito dos meus Sentires... Deixei o passado preso aos restos sem Sabor do ontem. Abri as maos e so vi Amor.

Dizem que quando as maos se abrem so se devem fechar num abraço sentido, intenso e profundo... Por poucos pedido e em poucos rostos achado.

So assim se soltam as estrelas vazias que habitam a grande Alma...

quinta-feira, abril 03, 2008

SOM DO AMOR

"No final do Caminho, apenas me perguntarao: "Amaste?" E eu nao direi nada. Abrirei as maos vazias e o coraçao cheio de nomes." Palavras de um Sabio.

Quem olha os proprios olhos? Quem mora dentro da Alma? Quem comanda a Anatomia do Sentir? Desacreditou o Homem a sua origem divina. Anarquista de Sentidos, disperso no vazio vive abandonado a sua Sorte ignorando quem lhe pintou o Ser... Caminha perdido, vacilante de Sentimentos... Homem, porque procuras construir com pedras quando so o Sentimento edificara uma torre capaz de chegar ao ceu? Porque desesperas sem acreditar no poder do Sentir? Alguns ainda nao se libertaram do olhar de Medusa, vivem encarcerados nas mais perfidas prisoes, aguilhotinando o Ser! Outros ainda pedem a Caronte que os conduza a outra margem mas, a melodia das vozes nao tem o poder da flauta de Orfeu, ja nem o som que emana do Ser Humano tem o dom da seduçao. E, tudo o que o Coraçao nao aquece e o tempo nao segura, o Olhar enfraquece. Sao vozes sem eco, sons inaudiveis que escravizam o Sentir. Onde vive a naturalidade e a sensibilidade do teu som? Onde reside o mais natural dos Sentimentos, Aquele que vive sem voz?