quinta-feira, agosto 27, 2009

CARUSMA


Intrépidos são os pícaros da colina onde, apenas, os sentidos cautos e puros chegam.
O denodo do fardo, por mais pesado que seja, deve erguer-se na pessoa como um hino com ânsia de alcançar glória: libertando, assim, as amarras ao pensamento do Ser (razão), colocando a nu sentimentos (emoção).
Só um Ser livre, na totalidade das suas acções, pode Sentir.
O verdadeiro sentir abre fendas, trepida por momentos mas mostra-se hialino. A verdade do sentir, do nobre e sublime ser, exige sapiência e ardor pois a verdade carece sempre de provação (de limar as arestas dos sentidos como um artesão da perfeição), nunca de indigência.
Tu que não temes subir a íngreme montanha que te conduz ao celeste ser e irradias a harmonia do teu vital existir, procura com o teu escudo, herdeiro de Ulisses, defender-te do que te atinge como fogo incontrolável que nem a beleza da carusma deixa antever: desejos.
O desejo não tem carusma, é fogo sem controlo, planície devastada pela insanidade dos sentidos incautos, exército ao abandono, conformidade entregue à Sorte: fim.

Inauditos são os sentimentos maiores que sublimam o Ser e elevam o sentir: Carusma, beleza sem par. Jamais serão extintos, todos os sentimentos verdadeiros, porque têm raízes: une-se a emoção à razão.

sexta-feira, agosto 21, 2009

A Morte da Rosa nas mãos da Princesa

O desgaste torna a luz num espectro: ainda com beleza. Um coração imenso não perde jamais o amor nas adversidades: acrescenta-lhe sementes do que poderá germinar (noutro lugar, espaço sem tempo): esperanças. Só um coração pleno pode amar de forma desigual. Amar o espectro como a luz que um dia foi sem esquecer no que hoje é: um espectro. A imparidade do bem-querer mora na beleza dos céus cinzentos, nas brumas, no que cai no esquecimento para todos menos para o que tem um coração cheio.
Durante a vida o espírito do lobo visitara-a, noite após noite, velando o seu sonho: olhando-a apenas, ainda que de forma triste e solitária.
_ “Os anos passaram e com eles as pétalas da rosa vermelha, que te coloquei nas mãos, gelaram sem murchar.”
O lobo envelheceu solitário.


As recordações ferem como o clarão intenso, na escuridão, dos eclipses de fogo quando visitam um Ser. As recordações são setas frias que um olhar solitário e que não se deixa ver, vai lançando.

O lobo também sentiu, dia após dia, as lembranças quando partiste e incendiaste o mundo na escuridão.
Esta mensagem está sendo escrita nas asas de um negro Condor para que a liberdade das almas do Lobo e da Princesa possam sentir paz e repousar. Ao Condor, de tamanhos sentires, foi concedida a imortalidade para este desejo realizar: voar, transmitindo o Sentir, sem parar.
Serena. Em silêncio. Na solidão repousava a princesa. Olhos cerrados com afinco. Cabelos soltos. Vestido branco de seda fina. Pés descalços, com saudade de te encontrar. Nas mãos colocaste-lhe uma rosa vermelha cujas pétalas abriram com o húmus dos dias. Ao chegares ao pé dela, tu lobo solitário, viste uma lágrima o rosto da princesa lavar, como quem expurga sentidos acorrentados e se despede da Terra, para sempre.
Porque o Amor é um cálice de amargura quando os lobos se desencontram.

quinta-feira, agosto 20, 2009

Tífon e Equidna


A porta invisível no meio de uma floresta de encantos ímpares

A Tífon e Equidna.

É uma porta de seda, fina e macia, com gárgulas, protectoras do desconhecido, da cidade que esconde os seres que por detrás dela vivem, num mundo desigual, de encantos e beleza infinitos.
Porta que só de noite ganha vida.
É na noite que todos os sentidos se libertam das correntes do pensamento, é na noite, fria e distante: filha do húmus que todos os desejos aparecem com a indigência do Sentir, por isso, pelas forças que a noite guarda em si, nunca o Ser humano pode ser inteiramente livre, com a noite chegam os desejos, tentações e quimeras.
Chamam-te a ti, homem, filho de um deus menor, as forças maiores: trevas, as primas da Lua. Chamam-te para o ventre da floresta, como uma mãe chama um filho perdido ou abandonado sem querer. E tu escondes a tua nudez ao vulgo olhar. Saibas a tua nudez: transparência, sacrário do Ser valorizar. Sempre. Só assim te libertarás do medo: prisão invisível na qual és o prisioneiro e simultaneamente o carcereiro.
Mas, só Equidna te torna visível, só ela te oferece vida: Sentir. A porta esteve sempre aberta, só esta mulher – serpente, quimera, sente a invisibilidade da mesma e só ela a pode abrir e ao teu Ser unir o Sentir.
Há muitos anos atrás estes semi-anjos, as gárgulas, podiam voar ou planar mas desde que os desejos se corromperam e distanciaram da sinceridade, coragem e esperança (virtudes necessárias à pesquisa da verdade: resolução dos enigmas que a vida enceta, a cada instante que passa pelas mãos do tirano Tempo, os voos foram proibidos, deixaram as gárgulas de voar: têm asas que ornamentam apenas. Asas invisíveis de Sentir, esculturas de pedra: cárcere das cáries da Alma, pecados.

quarta-feira, agosto 19, 2009

Miradouro

“Assim é meu caminho de vida. Minha busca. Um labirinto com entrada e saídas demarcadas. O grande caminho sem portas. Apenas com batentes apontando invisíveis limites.”
Ana Terra

Há um lugar meu: em escavações. Nunca sabemos quem somos nem por onde vamos: somo-nos. Nesse lugar, espaço de enigmas (para uns encanto, para outros fel de amargura), nesse vazio mas imenso lugar há sentimentos e sentidos, ainda e sempre, indefinidos mas verdadeiros.
Nesse lugar guardo a verdade: sou.
O oásis no deserto para uns. A terra seca e árida para outros.
Todo o lugar, por mais pobre que seja (ainda que na simples visão de alguns) tem beleza própria: meta-vida. Todo o lugar bem guardado, a sete chaves fechado é um livro de enigmas; apocalipse de sentidos – lacrado por sete selos.
Há magos que vêem beleza nos seixos desse lugar e feiticeiros que apenas querem possuir: garimpeiros de seixos ou diamantes, uns e outros no seu distinto modo de Ser e de Sentir.

Aos que nos diamantes encontram fortuna, os olhos cerram-se: não vêem o essencial. Aos que nos seixos encontram lugares, essências invisíveis, esse lugar é um miradouro, apelidado Coração.

segunda-feira, agosto 17, 2009

PORTA ABERTA

“It is time to break the chains of life. If you follow you will see what’s beyond reality”.
Behind the invisible, Enigma

À metade de mim.

A batalha nas batalhas. A Guerra nas guerras ou a ausência de batalhas e de Guerra. Há os que vencem batalhas, há os que ganham a guerra e há os que não se importam de a perder: não por cobardia mas porque não se identificam com ela.
Há os que gritam na multidão: alegres ou tristes, soltam ecos bélicos de ódio ou prazer, pela luta e na luta. E há os que na Solidão, nos becos sem saída, seguem vidas impossíveis, onde pormenores e instantes são a pintura da Alma, odes do Ser ou hinos do Sentir… Ou tão-somente prantos de dor.
Às vezes, na solidão, utiliza-se o pincel do sorriso, outras o da lágrima mas nunca quando se ama é em vão.
Tudo são enigmas. Frustrações da liberdade: mistérios. E nas sendas da miopia invisível, enigmas, está Mona, a mulher responsável pela criação do Céu e da Terra: única entre desiguais. Mistério. Doce e intenso mistério: sedução. Tudo são enigmas que podem abrir, fechar ou estar entre portas invisíveis: as portas da meta-vida, Amor.

quinta-feira, agosto 13, 2009

Onde mora a Saudade


“Não abro a porta quando batem (às vezes batiam só por engano) não avalio o balanço das certezas o que separa uma forma da outra sempre me escapou.”
O fio de um cabelo, José Tolentino Mendonça

Lenta e serena cai a Noite imensa. Intensos são os pícaros onde subi para enterrar a saudade e os sonhos do que contigo vivi. Deixei que as mãos despissem o olhar meigo do Condor que trago apertado no peito, deixei a descoberto sentidos sublimes que apenas os arautos do Amor sabem reconhecer. Descalços estavam os meus pés prontos para te receber, ainda que na saudade: expulsavam-te de mim como um fruto maduro, pronto a degustar. E aos desejos infinitos que o coração pede para não apagar, aprisionei-os de um jeito esquisito, perto do peito, do lado direito do amar. São oceanos, águas de mil chuvas que trago em mim. São húmus, são desertos, sentimentos inquietos que me fazem estar assim. Ah se a chuva ao húmus se unisse! Se os pomos maduros desta árvore imensa que é o amar, fossem de ouro. Se nos seixos visse diamantes e nos lugares onde mora a Saudade outro sentimento pudesse colocar…

terça-feira, agosto 04, 2009

DALAI LAMA - Lausanne



http://www.dalailama-lausanne2009.ch/