quinta-feira, outubro 30, 2008

CADUCEU DOS SONHOS

Aos Arautos, Sublimes cofres da Paz,

Adormeces o pensamento debaixo dos sete céus, soltas uma gota de cristal do teu Ser e acreditas que só quem dita as poções de magia poderá ao céu pertencer… A qual dos sete pertences? Como será o mundo dos teus encantos? Ninguém sabe a beleza que o céu escuro guarda quando o visita a Aurora com o orvalho dos primeiros dias de Outono. Ninguém sabe que a tua imensidão desnuda a natureza fria e inerte e no olhar do Homem provocas letargias sem igual. Porquê? Só por seres Mulher ou por habitares um dos Céus? Ninguém sabe o teu nome, nem de onde vens apenas te olham com vontade de Amar. E tu, deixas que durma o teu Ser, repousando os Sentidos na árvore sem folhas, onde guardas os teus Sonhos. Quantos embalos nesse tronco que te fazem tocar o céu e fazem de ti um Anjo, meu…

Saibas que muitos desejam adormecer junto de um Sonho mas poucos sabem acordar, abrir o cofre da emoção e ver que os Anjos não moram no Céu mas ao lado de quem faz da vida um Caduceu… Caduceu de Sentidos ímpares… Caduceu dos Sonhos vividos ou sonhados mas sempre partilhados...

domingo, outubro 26, 2008

RAINHA, SEM TRONO

Às essências que se conhecem, tornando inevitável o encontro

Os teus pés cansados tocam o mais alto cume onde reside a beleza que só os corações puros e sublimes conseguem alcançar. Valeram todas as espadas de dois gumes que tiveste de enfrentar... Valeram todas as Luas de Outono, todos os Ventos sem dono, que de ti fizeram uma simples algibeira dos Sonhos e te coroaram Rainha... Nas tuas frágeis mãos seguras pétalas, espalhas nesse cume, diademas de Sentir... Esvoaçam pétalas nas asas de Zéfiro... É a vez do ritual começar. Cansaram-se os pés da menina e já o negro invade o branco trajar. És Mulher! Tantos anos passaram... Dualidade de Sentidos, Alma sem paz, espírito antigo das florestas, beleza desigual.

Sobes aos pícaros, atravessas o Hades. Vives na Videira que une os amantes, Almas no cárcere da paixão, mesmo depois da Morte, do Encontro final... És tu a última a tocar essa pedra fria de Sentidos, lúgubre Rainha Sem trono. Os teus encantos são ímpares... Não desistas, de nenhum fruto queiras só uma parte, ninguém vive de metades... Ouve, sente... Abraça, no teu leito de Sentidos, a música que um Anjo mesmo Negro, talvez Morfeu, deus do teu Ser, te vem dar...

terça-feira, outubro 21, 2008

OS SAPATOS

À humildade de quem caminha sem medo e
degusta a dor, acrescentando-lhe sabor,
Diz o Coração da bailarina que já precisou de sapatos para caminhar pelas veredas inóspitas do Sentir… Já foi há muito tempo atrás, numa época em que as pedras da calçada magoavam e os delicados e frágeis pés pediam conforto para suportar a dor. Hoje, mesmo nas subidas mais íngremes, mesmo nos dias de chuva forte ou quando o dono dos trovões se enche de fúria a bailarina da Vida prefere continuar descalça. Ensinou-lhe a sucessão dos dias e das noites a suportar as dores da caminhada. Já não teme feridas nos pés porque o corpo cicatriza depressa… Só a Alma não encontra os sapatos adequados para a dor e por isso ela dança, dança e rodopia, sem parar. Ritual que oferece aos deuses como prece que se ergue aos céus para de si a dor afastar. Sobem as preces, descem as lágrimas!
As margens da Vida são leito de fino Sentir que moldam o nosso Ser de acordo com o caminhar. Saiba sempre a Mulher que a dança mais bela é quando dá Vida ao Ser, saiba que os pés descalços ligam mundos, mostram sabores, unem a Terra ao Céu... E que cada filho é dança... Por isso quando nasce uma Criança, ela vem sempre ao mundo, descalça.

quarta-feira, outubro 15, 2008

BECO DOS PRAZERES

“Tudo encetei e nada possuí… Hoje, de mim, só resta o desencanto das coisas que beijei e não vivi.” In Quase, Mário de Sá Carneiro

À sensualidade obscura do Sentir,
És o mais importante arquétipo da Alma humana, encarnas a singularidade da beleza, rainha entre deusas. O teu misterioso olhar fere. Vive em ti a erva imortal, dádiva dos deuses, que te permite seduzir as entranhas de qualquer Ser. Foste alimentada com o mel da Sabedoria… Laços que te comparam a Íamo porque só podes ser filha de um deus e de uma mortal. Quem te Sonhou? Quem te moldou? Quem te criou? Sibila dos desejos, em ti moram os prazeres da carne e do espírito, és beco dos prazeres, roda da fortuna… Bússola do Coração nas mãos de encantos, pedra preciosa, escama de quebrantos… Misteriosa figura carnal que dilacera o espírito do indefeso e se apodera da Alma apaixonada… Entras no avesso do Ser e fazes amar do lado errado do Coração… Rastejam aos teus pés os mais nobres sentimentos das Almas sem cura… Almas que o sublime Amor aprisionou. É adusta a solidão que te faz sobrevoar oceanos infinitos, sem que saibas distinguir o azul do céu, do azul do mar pois vive em ti a ilusão, fantasia de enredos… Mulher, és cobra de sensuais feitiços! Quantas vezes desbravaste caminhos com o desejo de possuir? Quantas vezes beijaste as coisas e não as viveste? Quantas vezes encetaste jardins perdidos e os esqueceste de cultivar?

Saibas inventar novas moradas, sejas pássaro disforme num vale de encantos mas, saibam os teus beijos contagiar novas vidas, encetar mundos perfeitos e possuir os desejos que só quem ama pode conhecer… E que mesmo que ames do lado errado do Coração, faças que nunca seja em vão…

domingo, outubro 05, 2008

OS OLHOS DA SERPENTE

À melodia de Leona Lewis, Better in Time

Serás um Anjo negro com uma vontade enorme de amar… Ama! Filha de um deus sem reino… Reina! Serás uma simples Alma perdida no bosque lilás das ilusões. Encontra-te! Serás uma bailarina num castelo de emoções… Dança! Rainha sem trono… Companheira da solidão, eterna feiticeira em busca da única maçã que te desvia o olhar, que te prende o coração e fere todo o Ser… Sangra o coração sem parar. Saberás que um dia os olhos da serpente já não te irão cegar e como Medusa correrás nas vielas desse castelo de frias paredes onde a saudade é dor? Onde sangra o Amor… Não temas as estátuas, frias, inertes que te impedem de Sentir porque trazes no peito a chama acesa do que um dia, por acaso nas mãos de Zéfiro ao teu coração foi parar… Como podes tu Medusa não lhe ter prendido o olhar? Saibas que um Deus, mesmo menor, tem os seus dons e que nenhuma mulher o poderá algum dia travar… Desde tempos imemoriais que vagueiam corações em busca de emoções que só o puro e sublime Amor poderá algum dia dar. Quer dances, rodopies sem parar, quer sejas Alma ananda nunca o Caminho do Destino que para ti foi traçado poderá algum deus ou mortal impedir de se realizar… Porque tu, caminhas descalça pelos lados da bonança onde a Beleza um dia foi reinar… Onde nunca Medusa ou fada do mal te impediu de Ser, Sentir e Saborear. Um dia ainda um coro de Anjos brancos te há-de cercar, a um deus te entregar… Serás coroada rainha com um diadema de flores, serás mãe de todos os pés descalços que no teu caminho se cruzaram e nesse castelo já ninguém habitará a não Ser o teu odor, um odor do paraíso, marca de que um dia vieste à Terra… Mas, um deus te devolveu ao Céu.