quarta-feira, janeiro 27, 2010

GESTO - sem o ser.


domingo, janeiro 24, 2010

BAGAS DE TEIXO


"Nós nascemos sozinhos, vivemos sozinhos e morremos sozinhos. Somente através do amor e das amizades é que podemos criar a ilusão, durante um momento, de que não estamos sozinhos." Publio Marón Virgílio

O poeta deslocou a retina até ao coração. Isolou o mundo no seu mundo. Puxou a imagem que trazia, há muito tempo, guardada no sentimento, como quem puxa um cordel e nas artérias do coração inaugurou novos meios de caminhar: escreve dias infinitos, dias que o Tempo não toca.
Dizem que tem a retina deslocada e no mundo vê desleixo, ameixas verdes e charcos de lodo. Mas isso é o que os outros, apenas, dizem: os que não têm lugar no coração para a retina. Os que têm vazio imenso como morada.
Que importa que os dias dos outros não sejam como os do poeta – há frutos de diferentes tamanhos e texturas. Há imensas florestas, infinitos sabores que os sentidos encetam.
O poeta deslocou a retina até ao coração e soube saborear a beleza das bagas de Teixo enquanto os outros não lhes vêem sabor, apenas beleza.
Os frutos tóxicos só a retina do coração pode saborear.

domingo, janeiro 03, 2010

PAREDES VAZIAS


“Contemplar o céu, as nuvens, a lua e as estrelas tranquiliza-me e devolve-me a esperança, isto não é, certamente, imaginação. A Natureza torna-me humilde e prepara-me para suportar com valentia todos os golpes.
...
Enquanto isto existir e eu possa ser sensível a isto - a este sol radiante, a este céu sem nuvens - não posso estar triste.”

Anne Frank In "Diário de Anne Frank"

São brancas as paredes que às vezes julgamos vazias. São tantos os Enganos que o Homem tem nas linhas do coração.
Nada pode ser tão vazio como o branco das paredes do edifício que somos: o verdadeiro vazio reside além do olhar em todos os que recusam caminhar, lado a lado, com os nomes dos mortos que marcaram a História que hoje faz de nós Homens.
Seremos sempre, pontos de linhas no espaço do Tempo, sombras de uma época passada, restos de dias sem luz. Habitará em nós a ausência dos nomes que ficaram por tatuar e dos lugares por visitar: resquícios de Saudade.
Somos pedras de um Templo incompleto, flores murchas desse Jardim Suspenso da Babilónia que outrora existiu. Mas, somos também recordação e luz. Somos sementes de um mundo melhor: somos esperança. As paredes vazias nunca estarão vazias enquanto houver um céu tatuado de nomes em cada Sentir.