quinta-feira, agosto 25, 2011

Aqueronte – um afluente dele, apenas.


Madrinha, como se dissesse páginas infinitas.


“… e cada um de nós metamorfoseou-se num cemitério ambulante – cada um de nós sepultou na alma uma quantidade desumana.” Al Berto


Sentei-me na parte mais triste do meu corpo e escrevi-te versos que os teus olhos não liam porque a parte mais triste do meu corpo são os teus olhos. Onde vivem agora?
Hirsuto e firme ainda sobrevive um Cardo. Há um lugar no mar onde guardas a esperança – Sol. Nem sempre está lá para outros mas dentro de ti, nos aguilhões da essência, consegues vê-lo e situá-lo no mapa.
Nesse lugar perdido – Sol – há imensos sentimentos submersos, denso (a)mar infinito de existências indefinidas ou por dizer.
Ontem foi o último dia para fingir o sono junto ao teu e tu não soubeste.
Alguém mandou secar os Goivos. Alguém os arrancou. Alguém os atirou ao mar. São agora algo mais junto aos sentimentos submersos, num lugar perdido que só tu conheceste: Sol.
Que importam os Goivos? Quantos eram?
Não tiveste tempo de os contar. Talvez nem lhes tivesses sobejado a beleza mas hoje, neste hoje que o Tempo não assiste podes ter a certeza que hirsuto e firme, ao vento, ainda, sobrevive um Cardo. Pertencerá à terra dos frios eternos?
O que é Eterno? Quanta Eternidade te habita? Quanta te basta? Tem outros nomes?
Nunca avistaste o mar pelo lado da lua, nunca dele te abeiraste (não sob essa via), nesse vale de infortúnios, Aqueronte, sepultaste, uma a uma, todas as palavras de Eternidade. Hoje em vão me procuro e não me sei sem ti. Quantas palavras de Eternidade teremos partilhado? Quantas deixamos penduradas no céu? – Esse céu podia ter-se demorado mais e afastar-se de ti, podia ter esperado.
Deste lado um Homem velho e um eco da sua voz: “não sejas guilhote. Afasta a capciosidade, nela não habita a Eternidade.”
E eu no meio da rua, busco uma palavra tua.

segunda-feira, agosto 15, 2011

Conhecimento do Inferno

“… vamos cá estar por pouco tempo; aliás, demasiado pouco tempo para testemunharmos todas as maravilhas da vida.” Don Juan, em “Viagem a Ixtan”, de Carlos Castaneda

O que se conhece na Terra não vem só da terra. Há um sentimento de vazio no não dito, na palavra indizível. Haverá sentimento num vazio que desacredita palavras? Um sentimento, apenas? Haverá vazio em que o silêncio não existe? Um vazio, apenas? Há um silêncio, sem palavras, sem voz, sem gesto. Silêncio ausente, que outro nome não tem. Desaproveitaram-se os silêncios, nos cartórios desoutorgaram-se nomes, nas palmas das mãos descoseram-se linhas, e já imerso o silêncio, não há nada.
O que se conhece na Terra não vem só da terra. Mas, hoje, (num tempo que nunca se sabe) este húmus não se redime a cinzas, este pó que cerca, faz acreditar nas metades que sempre fomos, tão diminutos, tão reduzidos. Fomos? Não seremos, ainda?
Não se sabe. O que não se sabe, não se diz.
Indizível: incapacidade de traduzir em palavras o que não se sabe, o que não se acredita.
A palavra firme perdura. Por vezes há uma sensação de conhecimento de Inferno. A única via que desacredita as palavras é como um túnel, ou um aqueduto, é uma estrada sombria, morte. Uma morte minúscula é um certo conhecimento de Inferno para os que não sabem, não utilizam e desprezam as palavras.
O que se conhece na Terra não vem só da terra. Todas as palavras são divinas e o sábio não as desacredita, tempera-as com silêncios emersos de serenidade.
Indizível: incapacidade de traduzir em palavras o que não se sente, imersão. Falta de sentimentos? Frieza de sentidos?
Todo o mar vasto pode ser uma palavra não dita, um silêncio ou uma paisagem apenas? Desconheço o Inferno, avultando-me nas palavras e já imerso o indizível todo o Homem é capaz de sentir. Todos os sentimentos carecem de palavras, ou quase todos. Excepto o sentimento de perda.
Teremos vida longa (entenda-se “eternidade”) se mesclarmos as palavras com sentimento, se as usarmos com maestria, adequando o silêncio à música: a única forma de apagar o vazio, de aniquilar a sensação de perda e desvanecendo o conhecimento de Inferno que às vezes deixamos morar em nós, inauguramos hinos de Sentir. Vida, tão-somente.

sábado, agosto 06, 2011

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