quinta-feira, setembro 18, 2008

CORVO DAS ILUSOES

Ao Corvo que vive em cada Sonhador…

Companheiro que repousas no ramo da Árvore dos Sentidos o teu coração de pássaro apaixonado delicia-se com os gemidos das folhas ao Vento. São notas que se soltam, ecos do violino que chora quando os dias se tornam grandes e eterna é a saudade que mora no peito da Alma enamorada. E não pára de chorar o violino, espalhando as notas pelo ar. Só tu, pequeno Anjo insistes em me acompanhar. Juntos soltamos notas do que nos invade o Ser e nas mãos do Vento entregamos o nosso Sentir. Quem levou de nós a ilusão? Quem tornou cativa esta paixão? Na Terra um Deus uma missão nos deu, cada Ser carrega em si o peso do Amor, de uma música eterna e única. Deus o mar a Poséidon entregou, a Zeus ofertou o céu, a Hades o mundo subterrâneo confiou… Mas, para ti, Simples poeta, Músico de Sentidos a melodia do Amor teceu. Que a saibas encontrar, do Tártaro e Érebo fugir e nos Campos Elísios possas a melodia do Amor nas mãos de um Anjo entregar e aí o teu Ser repousar…

Quando encontrares o Amor convida-o a habitar o teu Coração. Só ele será capaz de te fazer caminhar entre as trevas, desejar caminhos inóspitos… Só ele te fará retirar as adagas de dor que a Vida te cravou no peito, transformando as lâminas em flores, os Sentimentos em cores… Fazendo do Vento a melodia da magia e de ti um Corvo das ilusões, ao serviço das emoções. Um eterno Peregrino vestido de negro Sentir que desde tempos remotos desejou bater as asas e a casa chegar, cumprindo os desígnios que a Alma aprisionou no corpo de uma melodia perdida…

domingo, setembro 07, 2008

BURACO NO TEMPO

Aos Anjos negros que vivem no Vale dos Corvos
Mundos abandonados. Construções que o Tempo tornou espaços desertos, sem eco… Onde a tinta que o Coração do Homem pintou a porta da casa, entrada da Vida, se tornou gasta. Crescem ervas bravas, não há flores neste canto onde já houve Amor… Vê-se um escuro, sem reflexo, vidro que foi arrancado pelas intempéries dos Sentidos… Os olhos fixos na negra parte desta entrada convidam a entrar. É uma entrada num mundo de Sentidos onde a Alma se passeia lado a lado com Vidas passadas.
Mundo de brumas, onde o nevoeiro esconde as pedras frias, estátuas que perdurarão no Tempo, memórias dos que um dia viveram… Quantos segredos esconde uma casa? Quantos Olhares vazios? São brumas cinzentas onde os Corvos negros entoam hinos de dor pelos que souberam Amar, ousaram Sonhar mas que a Vida obrigou a partir… Mar de Sentidos opacos que não ofusca a beleza daquela que enverga uma saia de folhos como degraus da Vida… Negros cabelos soltos ao Vento, como cicios de mil carícias… Simples Anjo que seduz a Noite. Abres as asas como um pássaro que anseia tocar os céus… Pássaro que comanda o bando, por ti nasce um buraco no Tempo para que guardes todos os teus Sentidos, todas as tuas emoções.

Danças com os Corvos nesse Céu só teu… És o Anjo das Nuvens negras que dão cor ao território dos que já não falam… Só essa pedra conhece o teu Ser… Nela te ajoelhas como uma deusa em busca do Sol… De peito aberto cicatriza o Vento todas as feridas do teu Sentir que te fizeram perder. Chamar-te-ás Lilith e este buraco no Tempo é para te ajudar a crescer…
Saibas que mesmo um Anjo Negro tem beleza e vontade de viver. Acredita no poder dos Sonhos, ousa voar nesse mar onde outros só se souberam perder…

terça-feira, setembro 02, 2008

ESCUDEIRO DOS CISNES

"Não é o amor o leme que dá rumo aos desejos? ... Voz envenenada... O teu pecado foi ser Homem." in O coleccionador de Sons, História de uma maldição, Fernando Trías de Bes

Aos Sons da Alma,

Não era para ser assim. Anjo Eleito para sofrer, resigna-te aos desígnios do bem-querer. Inolvidáveis momentos dissecados pelo Som do Vento espalham os teus tormentos. - Diz-me, Anjo: "Quem te fez sofrer?" Despes o Sol, adornas a Lua... Fazes a Noite sorrir e o Dia um grito soltar e tudo porque um dia acreditaste ser possível esse eterno dom partilhar. Porque albergas em ti esse dom, suave toque da Alma, que tudo te impele a Amar? Ah! Não te demores, diz-me porque motivo não foste feito, Anjo Sublime, para pecar? Dissolvem-se as ilusões, quebram-se os cimentos superficiais dos Sentidos e tu, Anjo de Luz, companheiro das flores, dono das cores... insistes em Cavaleiro Ser, pintas os Sonhos dos que amas, dos que te fazem sofrer e dos que vês cada dia partir... Mergulhas a dor do mundo no mais profundo da tua Alma e insistes em mostrar a adaga do Sentir que faz de ti um Escudeiro dos Cisnes, aspirante de Cavaleiro...

És um deus menor... Cirurgião da dor, mágico dos Sentidos... Druida que espalha os Sons da Terra, no piano dos que desejam Sentir a Vida,

vertes no cálice da amargura pingos de mel, Sons que enfeitiçam e fazem Amar... És um Alquimista que transforma as pautas em chaves de um paraíso onde só tu, Anjo podes os Segredos dos que sofrem guardar... Como um maestro dos Cisnes, Criatura Singular...