quarta-feira, janeiro 30, 2008

MARGEM DAS SINASTRIAS

"O tempo como entendemos nao e somente nosso e tem o seu ritmo proprio na Vida".
De pes descalços, sentada num dos degraus da Vida escrevia o Sonho:
Atravessei o rio ao anoitecer nas asas de um Condor. Cruzei-me com alguns moradores da mesma margem, morada da minha Vida. Hora magica a que sacode a poeira da Alma e nos devolve o Coraçao ao Sonho. Fui plantar lirios na outra margem do Ser, lugar em poisio, terreno fertil, solo doce e suculento... Suaves Sons embrulhados em petalas de rosas aveludadas esvoaçaram nas maos do Vento. Do outro lado, especies diferentes, vida impar! Exuberantes cores atraem o branco de uma Vida. Ha sempre duas margens num mesmo rio: Sol e Lua, Dia e Noite, Luz e escuridao, Lagrimas e risos... Ha dualidade no Ser que procura e no que encontra. Sublime e a colheita da livre mao que, desapegadamente, semeia. So amontoa bens o escravo do corpo, o sabio semeia esperanças com os gestos mais humildes. E nobre o canto da ave inaugurando a Manha. Quanta doçura brota do despertar de um bico sedento. Quanta formosura no primeiro bater de asas, caminhando a esmo pela Vida em busca de novos sabores. Os sabores que o Dia oferece a quem despe o Coraçao encoberto pelos veus da personalidade, mascara do Ser, margem das sinastrias...

sábado, janeiro 26, 2008

COLAR DE ROSAS

Aprisionei o passaro ferido na mao esquerda, como quem coloca no dedo uma aliança de fidelidade e amor. Liguei a asa ferida a arteria que leva um caudal de emoçoes ao meu coraçao. Quero que saibas que penteei os meus cabelos com um pente de cetim dourado e todo o brilho que dele brota e um raio de luz do Sol quando se vai deitar, depois de um dia inteiro de amores e paixoes... Vesti-me de branco para te receber, finas alças de algodao, os ombros descalços, no ventre uma sensualidade selvagem e pura... E o branco a linha que separa dois Anjos que se desconhecem... Ha uma vontade de partilhar o canto das aves, o ritmo cadenciado das aguas da cachoeira onde te espero, onde sempre o meu espirito por ti esperou... Escuto as vozes da natureza, como uma filha prudente, deixo entrar no meu Ser tudo o que aprisiona os sentidos e na vasta regiao do Amor ha tanto para te ofertar...
Escolhi rosas vermelhas aveludadas, sete rosas perfeitas, simbolo de sensualidade revelada, delas fiz um colar de sentidos e envolvi todo o meu Ser, tudo o que sou, para que possas Sentir... Espero-te ha tantos dias e noites que essa agua que cerca a tua Terra e forma ilhas de pensamentos sao carencias do meu Ser...
O meu olhar e uma Alma isolada, que nem ilha por encontrar no meio do oceano, espirito selvagem e triste por nao te ver... Onde estas que nao te sinto? Voltas rapido para mim? Cresce este bem querer mesmo sem te ver...

sexta-feira, janeiro 25, 2008

BREVES INSTANTES


A um rosto por conhecer,
Ha pequenos momentos, breves instantes, dificeis de apagar. Sem eles o Deserto, o imenso Deserto, nao tem nome... O Mar, o mais bravo e belo Mar, nao tem rosto... O Ceu, a mais extensao regiao onde dormem os Sonhos, nao tem Alma, nem cor... E a Agua, limpida, que corre em todos os regatos do mundo, nao tem sabor... Ha Beleza impar, num instante sem esquecimento.
Breve e o instante do Olhar cruzado, do gesto trocado, do beijo sentido, do desejo partilhado, do viver enamorado, do fogo que nasce de duas fontes... Breve e a Noite quando se apaixona pelo Dia. A Noite, esse instante de magia, manto de harmonia, veu dual do Sentir... Breve e a Luz que passa pela cortina da janela, Aurora que ainda nao despontou...
Breve, fugaz e efemero e o instante sem Amor... Belo e duradouro e o instante quando se estende a mao e cai do Ceu um pingo de chuva, enviado pelo Mar e repousa sem cor, sem dor, sem rosto, so com sabor no Deserto, extenso, vasto, imenso que e o Deserto do Amor...

domingo, janeiro 20, 2008

CASAS.

Ha Almas ancoradas, presas no marulho do Tempo. Todos falam de amores desencontrados e dos que um dia se encontraram mas o Tempo aprisionou. Muitas falas... Ninguem ouve. Nao ha Silencio. Somos Seres Humanos, corpos sem cor, coraçoes apagados, Almas aprisionadas nas maos das palavras, foragidos num tempo cercado pelo esquecimento. Sentado no picaro mais alto da Vida, vejo casas multiformes, sinto o cheiro dos seus telhados, imagino as portas que nao se abrem, as janelas a quem o Vento rasga murmurios pelas arestas gastas pelo Tempo, esse senhor das ilusoes... Ha Segredos nas casas... Ha gritos, sorrisos, encantos de dor... Quanto desdem pelas casas que nao falam, que nao sentem, que ouvem tao somente...
Os olhos no horizonte, o livro dos encantamentos aberto, algumas paginas rasgadas, as de dor levadas pelo Vento ate a tua casa... Um Silencio, ruas desertas, jardins sem flores, dia sem sol... Assim caminha o Homem perdido nos sons do esquecimento, nas teias do mais profundo sofrimento.
Afortunado do Coraçao que sobe ao picaro mais alto e deixa falar o Vento... No mais pequeno Silencio reside o mais precioso e puro Sentimento... As vezes o Sofrimento e Silencio, outras o Silencio e Sofrimento, nao ha casas iguais na Terra...

terça-feira, janeiro 15, 2008

PRECE.

-"Acorda! Temos um dia de Sonhos inteiro pela frente... Anda, Anjo pequenino preciso de ti para soprar alegria pela Terra, dar cor as flores, brilho ao dia, melodia aos passaros, encher os rios com caudais de Amor... Levanta-te, o Homem precisa de Ti, sem o teu suave toque de Anjo ele nao sabe onde esta". - Anunciava a magica voz do Vento.
Pobre do Homem que se perde no marasmo dos dias e nem cor lhe sabe dar... Pobre do Homem que come sem se saciar, que bebe por imitaçao... Homem, tao pobre e o teu caminhar, deserto de sentidos, vazio de esperanças, na vil acumulaçao de desejos...
Desejos? Infeliz de quem vive de apegos, de quem nao se desprende dessa fome comum que nao conduz a lado algum... O Homem, o de Hoje vive por imitaçao, alimenta cada dia que passa os seus desejos, tamanha e a ilusao... Tao fragil e a carne! Tao fugaz os momentos... O Homem esqueceu-se que ha Anjos pequeninos a espera de fazer o Homem Sonhar, mostrar todos os lugares belos da Terra, todos os lugares puros no Ceu, que um dia ele podera alcançar...
Caminhas tao so, nesta Terra de Sonhos... Tao perdido... So ves dor. Sofres por nao saber que ha Anjos pequeninos que te poderao ajudar a crescer... Levanta-te Homem, de ti um Anjo pequenino podera nascer... Um Anjo pequenino, fruto do teu Ser? Ha Dadivas que so um Coraçao desperto conhece e sabe agradecer, saibas Sempre que onde quer que estejas estaras Sempre no meio do Universo e de Ti gestos grandiosos poderao aparecer, Anjo pequenino, fruto do Amor... Que assim seja, o que esta destinado a Ser...

segunda-feira, janeiro 14, 2008

ANJO PEQUENINO.

Quem te disse que tudo nao nasce do gesto? Um gesto nasce do nada, do mais pequeno grao, da mais pequena semente que bem germinada e regada dara um manto de cores diversas capazes de colorir a tua Vida e enriquecer o teu chao. Pisa com cuidado cada canto do teu Ser porque podes no mais pequeno gesto deitar tudo a perder... Quantos Sonhos sonhados, quantos por sonhar estao... Quanta agua brota da mao de quem acredita que o regador da Vida começa do mais infimo pormenor... Quem ve crescer flores no chao, acredita que do outro lado da tela ha um Anjo de regador na mao, a espera de um gesto, de um senao...
Diz-me Anjo pequenino, de profundo Sentir, como podes com um simples sorriso iluminar os Dias e as Noites? Regar as minhas magoas, com pinguinhos de mel caidos do ceu e fazer-me acreditar que no proprio firmamento existe uma estrela com o nome meu?
Ha Anjos pequeninos, de rosto dourado, com maos de seda e cabelo encaracolado... Ha meros passantes, ignorantes de gestos, que apenas dormem a seu lado... Esquecidos da Vida, donos de Sonhos apagados...
Feliz de quem se encosta na Almofada dos sonhos que pelo Anjo sao regados e esquece que para Amar nao ha lugar para os renegados... Apenas gestos, pequenos, ... que desabrocharao, no decorrer das Noites, como Sonhos bem tratados...

BAILARINA DO TEMPO.

Ha uma sombra. Alva linha do infinito que traça o caminho nas veredas da escuridao, num percurso tao intimo e tao so. Sete passos de bailarina que o tempo aprisionou, multiplos desejos de menina que outrora o mesmo tempo, vil figura, castigou... E rodopia, rodopia sem parar nesta dança do tempo que desde o tempo de menina a faz sonhar. De que sao feitos os sonhos? Pobre mulher, ja tao feita, caminhas perdida na linha alva do tempo envolta nas brumas de Avalon, tao escura e a noite, tao distante o teu pensar... Tao negro o ceu e o mar... Humus, frio e escuro, adubos mal doseados, quanto mal te tem feito a vida? Lembra-te dos designios que acompanham a tua Alma: uma Alma que caminha descalça nunca esta so, tem a experiencia amarga do sofrimento... Sofre quem precisa de crescer... Solidao ate quando daras a mao a bailarina do tempo que caminha aprisionada nos sete passos de dança? Liberta-a dos calos da Vida sofrida e devolve a sua Alma, candida doçura, ao sonho que a faz caminhar...
Todos sem excepçao, nos nossos relatos de sofrimento, somos irmaos de Sisifo, o mesmo rochedo temos de carregar, ROCHEDO DO AMOR, na evoluçao do Ser... Bailarinas? Poucas sao as que ainda caminham com desejos de meninas aprisionados no coraçao... Ate quando Alma diferente, que tolhas o pensamento e invades a mente? Ensina a Bailarina a bailar... Enfrenta os rodopios da Vida que te prendem nessa espiral, ilusao magica, Tempo...

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Chuva.

Um dia lembrar-te-as que me chamei Vento, que passei por ti quando menos sentias. Que desejei fazer uma tempestade, ensinar-te a sorrir, aprendendo a chorar... As vezes aparecia-te sob a forma de agua, pingos de mel caindo do ceu para te explicar o que e sabor doce. Mas, como poderia eu mostrar o que e doce sabor a quem nunca provou o mel? As vezes levantava a cara ao ar, porque o ar que respiramos da-nos leveza, e do meu gesto aparecia a Chuva durante dias e noites, sem par...
Quantas vezes pedi o conforto das tuas maos, o aconchego do teu rosto, o calor dos teus labios? O pensamento voou vezes infindaveis ate ti, o pensamento e seta que voa sem asas... E pensava eu que assim diluiria as emoçoes que me atormentavam... Quantas subidas ingremes...
Quantos gestos de dança por dançar... Movimentos incontidos do corpo que so deseja, que so pede arte e esquece os sinais do tempo, esse tirano, que nos impede de meditar...
Hoje ja nao Sou o mesmo Vento, quero Ser Brisa que, despercebidamente, continua a passar por ti, sem desejos... Continuo a Ser dança mas ja nao chove... Ah que saudades da Chuva, ...

terça-feira, janeiro 08, 2008

Ampulheta da Vida.

"O autoconhecimento e uma travessia das regioes aridas da ignorancia e caminhos inospitos do medo, para encontrar oasis interiores de revelaçoes libertadoras, embora estejamos sempre sujeitos a miragens e enganos durante o caminho."
Marilu Martinelli
Gostava de me poder sentar dentro da ampulheta do Tempo e comandar a Vida. Começaria a escrever apenas durante as Horas Abertas, contrariando o comandante deste punhado de areia ressequida, o dono da Vida, o mestre das horas, o Tempo. Quantos graos da minha escrita se soltariam sob a forma de gritos no maior deserto, o deserto Humano. Gritos que ecoariam na musica das esferas, sons da Vida, impetos de Luz...
Oh Arvore dos Zefiros, sopro do Tempo, deixa a minha Alma divagar, caminhar pelas veredas do Ser. Ilumina o meu Sentir. Ha tanto que espero esta viagem na Ampulheta da Vida... Somos Viajantes solitarios, na Alma a tranquilidade, sem materia... Soltam-se as amarras dos desejos, desapego total! Oh Ampulheta da Vida esquece o acumulado, ensina-me o que esta para cumprir, mostra-me o que tem que ser cumprido. Tempera as minhas intençoes, cumprindo o que tenho de cumprir. Caminho tao so, as vezes tao ferida, de pes descalços num deserto arido, a espera de uma gota de agua que me sacie na certeza de nao ser dona de nada...
Porque estou neste Caminho? Nao poderia eu estar noutro?Quem traçou este Caminho?
Porque tenho de o percorrer? Porque me chamas, Ampulheta da Vida? O Caminho cada um sabera se o tem traçado na Alma e no Corpo. O livre-arbitrio fara o resto, sera?
Quantos desanimos de quem pisa a Terra, sofre e vive de emoçoes... Espero a dadiva sagrada, dada com o Coraçao, na hora certa, no sitio certo, sem esperar nenhuma recompensa... Ate la, deixa-me Sonhar que comando a Ampulheta da Vida.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Segredo.

De ti guardo apenas um nome, poucas palavras, um rosto... Dispersei o teu cheiro na brisa que visita cada Aurora, cada Anoitecer. Dei ao Vento o som de cada eco da tua voz e deixei nas maos de uma Andorinha o pulsar do teu coraçao. Lavei todas as recordaçoes no grande Rio das Emoçoes. Perdoa-me mas, como poderia guardar segredos que a Noite nao soube calar e a Natureza nao soube cuidar?
Sinto-te no crepitar da chama da lareira e quando as ondas do mar tocam as pontas dos meus pes ouço-te, como um murmurio lento mas doce, preso no fundo do mar. Quem designou este fado? Quem te olvidou nas sendas do tempo? Quem te entregou num envelope ao pe do mar, numa Noite de luar? Quem?
Es uma Alma antiga que me visita, Espirito mistico que me acolhe, Guerreiro que me seduz...
Companheiro de Viagem, Sonho, Guia, Sombra e Luz...

quarta-feira, janeiro 02, 2008

O Passaro de Luz.

Cada Novo Ano ha um Passaro que vem de longe, desce dos Ceus, vem descalço pelos degraus do corrimao da Vida. De olhos vendados, lanterna do Coraçao na mao, procura pontos de luz no seio da escuridao. Vivemos as escuras, apagados perante a ilusao das lanternas que outros erguem sem sentido, sendo mais altas que as que o Passaro traz na mao... Ate onde iluminarao estes postes que parecem tocar o Ceu? Mil Enganos, vil ilusao... Pobre da Vida dos que se acoitam com a luz que outros colocaram, esquecendo a luz do Coraçao que poucos carregam ainda na mao... e vagamente, como num sonho, doce recordaçao, ouvem dizer: " E partem pessoas que foram filhos afectuosos"...
Ate quando vivera o Homem da doce recordaçao, esquecendo que a lanterna que mais ilumina, a mais alta e a do Coraçao que traz Sempre na mao? Um dia quando avistares no Ceu a mais pura luz e eu ja nao mais existir, lembra-te que os filhos afectuosos nao partem nunca, sao pessoas que ficam por ca, Anjos que se servem de candeias na mao para te guiar na Terra, alguns visitar-te-ao sob a forma de Passaro, outros nao... Mas, todos os que se deixaram tocar pelo Bem, de Beleza e Doçura te rodearao...