terça-feira, setembro 21, 2010

Adormecer passados


“A vida é uma comédia para aqueles que pensam e uma tragédia para aqueles que sentem.” Horace Walpole

Para a Camila que trago em mim, sem baptismo.

Gostavas que tudo fosse diferente, que houvesse um sentido. Um caminhante perde tantas vezes o sentido quantas vezes vê nascer e morrer o mesmo Amor.
Senta-te na areia, sem o sentido de pertença, nada nos é. Deita todos os sentidos já percorridos nas fímbrias do alto mar, não importa que os avistes, importa-te ser e sentir. Não temas chorar, as lágrimas são a mais perfeita manifestação das emoções que tens.
As imensas batalhas que travas, assim devem ser para que possas encontrar a diferença no caminho.
Procurar um nome às coisas é meio caminho e às vezes vale mais adormecer passados do que amadurecer presentes.
Deixa-o dormir. Deixa dormir esse sonho que te ocupa o peito e o avesso do mesmo. Andou tão cansado, o sonho: o teu sonho. Os olhos nunca cerraram e viveu as noites como os dias.
É um erro viver como iguais, duas partes tão distintas.
Vale mais deixar adormecer os nomes que procuras e não insistir no amadurecimento: amadurecer magoa muito. Adormecer custa menos.
Amadurecer: pode ser procurar o nome das coisas mas é muito mais. Amadurecer: é deixar que as coisas mostrem os nomes.
Procurar, ainda que na intensidade – a única medida que une dois seres humanos, atrapalha.

Depois de ouvir a mensagem, Camila deixou de procurar os nomes das coisas, os sentidos do sentido. Aprendeu a adormecer e a amadurecer. Separou os noites dos dias e numa dessas noites que o Tempo tem, morreu.

terça-feira, setembro 14, 2010

Do sabor dos nomes.

Amadurecer: é tentar perceber o nome de cada coisa.

quarta-feira, setembro 01, 2010

Ao maior dos amores: o que faz sofrer

A todas as coisas que não acabam porque nunca começaram.

- Falhaste. Trazes o nome trocado desde que nasceste. Primeiro esqueceram-se de amar aquela parte de ti que hoje te daria metade daquilo que buscas. Falhaste. Falhaste. Falhaste. E dizes que ninguém te entende. Usas o impessoal, como se isso fosse desculpa. Depois nunca soubeste ver que as pessoas têm dois lados: o bom e o mau – preferiste, sempre, sofrer mais e mais: estavas sempre lado a lado dos outros, acreditando em quem nem te desacreditou, (porque nunca pensou sequer em ti), preferias espremer gota a gota do que as pessoas são, do pouco ou nada que te dão, como se o sumo de limão pudesse ser doce, sempre mais doce. Como se as ilusões não tivessem lugar: não em ti.
Admite rápido (talvez não te custe tanto): falhaste.
Tu não sabias: a vida é feita de falhas. A vida é feita de sofrer, de muito sofrer. A vida é como um armário que substituiu todos os teus vestidos por sofrimentos, já não precisas de cobrir a pele. Os sofrimentos, esses, que parecem não te abandonar estão em ti entranhados na pele, rejeitando todos os vestidos, tudo aquilo que te tornaria mais bela, nem cambraia, nem lã podem dar um toque à tua pele.
E tudo o que tanto buscas, só chega até ti quando desistires de procurar. Tu és assim: nunca deixaste que te encontrassem (também quem teria força para matar essa ânsia bastante que te morde o peito): precipitas-te a cada dia que passa, abeiras-te do precipício como uma lâmina gasta, fria e cansada.
A tua pele rubra encandeia o olhar que contigo, vagamente, cruza e queima com ardor os que tu julgas, de quando em vez, tocar-te com amor.
O Amor: esse é outra casa sem nome e tu sabes que a mais eterna das palavras é casa.
A que distância deixaste o coração? - Diz-me sem medo de falhar e com todo o sofrimento que viver implica. Diz-me.