sexta-feira, janeiro 25, 2013

                                                
                                             (imagem extraída do jornal “24heures.ch”)
“Chiroptera
“Fecho os olhos e não vejo o teu sorriso. Porém, na memória, um odor a maçãs e outros cisnes”. Poema para pesar maçãs, João Pedro Costa         

   Paro para fazer uma análise ao mundo dos homens. Eu também já vivi nele. Agora avisto-o da janela, da parte de dentro da janela.
  Não importa o que vem de fora. Importa o que dentro, de mim, guardo. E sei que, ainda, guardo coisas do mundo dos homens porque eu já vivi nele.
  Limito-me a observar: com atenção; demoro-me. 
  Importância menor, reduzida ou nenhuma – a do exterior que, de mim se projeta.
 E tudo porque num dia constatei que entre homens, já não se podia viver assim.
Fuga? Não foi fuga. Quem foge quer esquecer; não escreve para falar do que fugiu. Evade-se, sim, para buscar um outro, em si, ou o que nunca conseguiu.
  Às vezes são necessárias fugas – talvez precárias e lentas mas eu não fugi.
  Um dia disseram-me: - “Faz sempre o que for melhor para ti!” E foi, assim, que fui cometendo alguns erros, também, pensando que estaria a fazer o melhor, para mim.
   E sei desde que soube: a errar vou aprendendo, a não fazer parte do mundo dos homens – simplesmente porque não o quero para mim.
  Se fugi? Uns dizem que sim, outros que, apenas, me encontro “ali”. E não importa o que dizem.
“Quando me chamas Gaivota, mostro-me Morcego e quando não sei o que posso ser, invento-me até ao limite do que não sei ser.” de Sandra Maria Ferreira

domingo, janeiro 20, 2013

(imagem de Duy Huynh)

“Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo.” Pitágoras

   Acorda. Deixa que te fale dos sonhos que esta noite ficaram por sonhar. Enquanto dormias, eu adiei os meus sonhos para que eles amparassem os teus.
   Imaginei um pássaro, esvoaçante, de asas coloridas, vindo de Sul – onde as terras são mais quentes e profícuas; onde os sonhos aparecem como nascente para me visitarem nesta noite que foi a mais longa, do ano. Visitaram-me sonhos a poente e com eles todos os pássaros que as tuas mãos não são capazes de segurar.
  Então recordei-me: de que modo poderás guardar um pássaro, como quem guarda um tesouro de algibeira, no coração?
 Demorei-me horas com esta fantasia, sob a forma de pergunta e dela não obtive resposta. Pensei no estado de desespero, nas horas dos notívagos, dos insones, dos dementes e dos que a sociedade rejeita e obtive a solução: agarrei-me nas asas do sonho, como pássaros vindos de poente ou nascente – de um lado qualquer onde os nomes não chegam porque nada de verdadeiro se define, apenas se sente (tal como o Amor). Agarrei-me nessas asas, com afinco, e entreguei o meu coração nas torrentes da imaginação.
   Foi então que te avistei, como neve branca. Estavas ausente. O lugar onde te encontravas assemelhava-se a um lugar onde um deus pode morar – espécie de panteão. Tudo branco, não havia ouro ou dourado como sempre pensei as cores onde deuses habitam.
  Estive horas inteiras a observar o branco e a ideia da pureza assolava-me o espírito.
  Neve. Neve. Neve. Neve. Neve. Neve. Neve.
  Cada vez mais branca, mais pura e intensa.
 Interrompi a imaginação; parei os sonhos (como quem deixa um guarda chuva num vão de escada, para a ocasião) e perguntei-me:
“Serão os sonhos, dos outros humanos (ou dos que assim se definem) da cor dos meus?” e nesta noite escura eu soube que o branco esteve lado a lado comigo, para me habitar ou de quando em vez, me visitar – como réstia de luz, tão-somente.
“Se me disseres da cor dos teus sonhos, dir-te-ei da cor dos meus e se neles permaneceres, dir-te-ei que esses sonhos são teus.” de Sandra Maria Ferreira