quarta-feira, novembro 26, 2008

PRETÉRITOS IMORTAIS

"Assim, o que cada um vê, em mim, é somente aquilo que quer ver, não, o que é real e existe." by Grimoire

Há um mundo para lá do que o olhar alcança. Um mundo onde um lençol basta para cobrir os Sentidos que tatuam o corpo e moram na Alma. Tudo o que tocas, Harpa de dor, se transforma em beleza e encanto. Sobre essa arcada que é a Vida, ponte onde muitos passaram, outros pisaram, guardas os pretéritos imortais do que te possibilita hoje dizer: Sou! E já as escadas gastas pelo Tempo não te impedirão de acreditar que muitos sonhos por elas passaram e continuarão noite após noite, dia após dia a abraçar os que insistem em Sonhar. Oh Harpa da Vida, quantos mistérios e segredos vivem em ti, quantos fantasmas e medos se erguem dentro do teu Ser, quantos soluços soltas... Soluços de música peregrina que só encontram par na Alma divina. É a Harpa, dona dos Sonhos, senhora dos ecos que murmuram os céus nas noites de saudade onde os pretéritos são imortais.

quinta-feira, novembro 13, 2008

TESTAMENTO DO SER

Um dia depois da partida ainda te hei-de visitar. Fazes parte do testamento do meu Ser. Virei trazer-te a presença do que em Vida não te soube dar… Doem as ausências que adormecem nos corpos frios, ávidos dos ecos que o tempo não consegue apagar. Já de rosto caído, com o diadema de flores que me coroaste, com o vestido branco que mulher me tornaste irei ver o teu rosto uma vez mais, a dor em mim aumentará e fará de mim uma Alma perdida, que vagueia nos longos Invernos da Vida como uma ferida por cicatrizar. Só esse candelabro de cinco velas será capaz de representar os cinco Sentidos que um dia ainda hei-de fazer renascer em mim, ao unir-me a ti… Por isso, passeio a sombra do meu Ser nas paredes deste castelo vazio, onde os vitrais já sem cor, só reflectem dor… Lentamente, como as mágoas que os dias acumulam em mim por não te Sentir vagueio com este candelabro na mão à espera do dia em que juntos possamos edificar o Altar do Amor. Os sinos voltarão a entoar por todo o vale onde repousarão os nossos corpos em união e um compositor, filho de um deus maior cantará por todo o Vale dos Sentidos a canção dos nossos Amores Proibidos. E, só então existirá a nossa Canção, aquela que em Vida não teve lugar…

O Testamento do Ser nada poderá contra o usucapião dos Sentidos mas tudo poderá alterar na memória dos que andam perdidos ou de simples Anjos ora negros, ora esquecidos… Porque os Sonhos que não forem em Vida vividos, na morte serão dívidas de juros acrescidos…

domingo, novembro 09, 2008

OS CARDOS


“A vida não passa de uma oportunidade de encontro; só depois da morte se dá a junção; os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace”.
Victor Hugo

Há cicatrizes que não te servem mas que o teu olhar abre no Ser do outro como fendas de uma qualquer intempérie onde só habita a dor. Na pintura sagrada da Alma procuras sonhos perdidos como se morasses numa região árida e sequiosa de sabor… Vives cada gesto como quem sorve uma gota de prazer. Entregas-te nas mãos das nuvens que moram no Bem- Querer. Quem te disse que a água que o mar leva não são lágrimas de quem pede aos deuses para te ter? Findam os dias e com ele vão esconder-se na floresta imensa dos sentidos as brumas das Saudades de te ver. Já repousa o Sol abraçado à Lua e as Estrelas aparecem como fios no horizonte daquele que não te poderá nunca esquecer. És um Anjo de asa partida a quem a Vida não soube proteger. És a Luz na artéria de um pássaro ferido que espera o teu toque para sem medo adormecer.

Acredites que quem embala os Sonhos como Rosas apesar de aos olhos dos outros, apenas Cardos possam Ser, nunca das linhas dos deuses poderão algum dia desaparecer. São os Cardos que dão Sabor aos lugares ausentes e aos rostos sem nome que vagueiam na Noite e no mar se vão perder… Apenas pela Saudade, que transforma as lágrimas em mar pelo que não se pode ter… Mas, nas mãos do poeta, no Coração do Criador, na cartola do Mágico ou na espada do Guerreiro as lágrimas em Cristais se podem um dia, converter…

sábado, novembro 08, 2008

SENTIMENTO IMORTAL

Ao Amante das Gotas breves de prazer que a Vida dá,
Enrosca-se a natureza, envolvendo-te o Ser. Esse caminho que pisas é chama de vulcão quente. Quando a espera faz de ti um espaço sem Vida, um eu ausente. Procuras os teus passos na escuridão, sem fronteiras viajas à procura de uma simples gota de Sabor. Há gotas imortais que só tu, na brevidade dos sopros, sabes Sentir… A Vida não pergunta, exige que a vivas, a tornes imortal vivendo ao lado de quem te ama, somente… Mesmo que as palavras não saibam dizer e nos silêncios, simples nadas, entendas que devo estar presente, saberás que sempre estive dentro de ti, nunca estive ausente. E nas ondas dos cabelos que espalhas pelos chãos há um mar eterno de sentimentos que não querem morrer e pedem ao teu Ser para os percorrer. São manchas de sangue que te fazem perceber que a dor ajuda a crescer e a serenidade ajuda a aceitar o que pareces aos poucos perder… Desprezas rostos que não escolhem a mesma estrada que tu, sublimes são os teus passos porque não temes viver mesmo que para ter uma só gota tenhas de sofrer. A Vida mostra-nos que somos imortais, que há sempre mais do que estamos dispostos a percorrer. Tu e eu somos muito mais do que os frágeis sinais do tempo teimam em fazer demorar a vir, simplesmente porque existe um Sentimento Imortal ao qual não poderemos nunca fugir…

Saibas que a Vida dá hinos de prazer a quem sabe Almas imortais em corpos frágeis unir…

sexta-feira, novembro 07, 2008

FEITIÇO DE ESCRITOR

Na abertura do Coração fica a válvula da Emoção que o deus das palavras manuseia com a ilusão de unir os dois mundos,

A ti, que trocas os dias da semana e as estações do ano com a maestria do Sentir… Transformas um Maltrapilho em Rei, vestindo-o de metáforas, com a sublime descrição das mãos que com este Ser se cruzam. A ti, que recebes a chuva como um coro de Emoções e vês num negro Corvo a subtil e ímpar beleza de um Anjo perdido, de um rosto esquecido e com palavras feridas aqueces os pés descalços dos que caminham nas margens imateriais da Alma. Vives sem mesura porque a magia que te envolve a aura não pode o Tempo comandar. Não há bússola para a geografia que orienta os Sentidos das artérias, simples vielas ilustradas pelos contornos da Sabedoria que Prometeu te outorgou. Colocas flores onde há pedras frias e dás Vida aos corpos que repousam inertes… Levantas os Espíritos com a tua singular singeleza, vês os rios como uma margem de incautos mundos… Entregas os Sonhos das Princesas ou dos rostos das Raparigas sem realeza, desenhados por Morfeu, nas mãos do Vento, sábio arquitecto dos Sentidos, és um cirurgião das feridas que não curam… E, com os teus Feitiços de Escritor inventas mundos que permitem a corações mais pobres ter Sabor.

Que Responsabilidade: vês a Alma no ápice de um Olhar e com a dança das palavras, artifício dos Sentidos, podes um Arco-íris nos Humanos solitários, pintar…

terça-feira, novembro 04, 2008

VALSA DA LUA

"Fecharia os olhos sob os anéis dos astros e entre os violinos e os fortes poços da noite, descobriria a ardente ideia da minha vida."
Herberto Helder

Aos que nas mãos da voz percorrem um caminho,

Quando te perguntarem por mim, ávidos por saber quem sou ou pela simples fome de Sentidos, não temas dizer que habito na voz do Vento, sou filha dos sete mares. Lágrima de cristal perdida nos teus quebrantos... Pétala de marfim ou singelo laço de cetim... Sou simplesmente uma pena sem norte que à Aurora vem buscar o aroma do Jasmim. Serei parente das Ilusões. Herdeira do Pecado ou Escrava acorrentada nas frias mãos do Fado. Eterna Princesa de olhar apaixonado ou dirás antes, de olhar vendado? Metáfora de Amor, nos cadernos que o Vento dita. Serei talvez uma bailarina que rodopia sem parar. Simples imagem sem rosto que de vermelho pintou o desgosto, tatuando com maldição na pele o verbo mais doloroso mas também o mais saboroso, Amar. Serei Mulher de encantos para uns, feiticeira de olhares perniciosos para outros...
Mas, saibas que quando dança a Bailarina que traja de vermelho o seu Ser, de costas para a Vida, rodopiando sem parar, enceta um ritual de pura Magia que poucos sabem alcançar. As mãos erguem-se aos céus, na vã esperança do seu par encontrar. E, todos os que com ela se cruzam jamais o negro voltarão a trajar. Porque cada vez que ela dança a Valsa da Lua, um Anjo no céu o sono alcança e de azul pinta os mares e os céus que te permitem Sonhar...

domingo, novembro 02, 2008

O ANONIMATO

Aos que a Anodinia vai dos Sonhos libertando,

Um dia. Todas as histórias têm um dia. Baptizo este dia, Sombra dos Sentidos. Nem sempre o protagonista sabe quando será o seu dia. A Vida é um cais feito de esperas onde a maior beleza reside no anonimato. Vens como um Guia orientar os corações que navegam nos mares da Ilusão. Colhes as flores plantadas pelas mãos da Emoção. Aos olhos de uns talvez sejam as mais belas mas tu, Rei do Soberano Encontro Eterno, desencontrado da Vida, sabes que a mais bela não é aquela que todos os olhos vêem mas a que no anonimato deixa apenas que as Almas perfeitas a possam Sentir. A verdadeira beleza não é a que vive nos olhos, às vezes Ilusão... Mas, a que deixa uma fragrância anónima no ar. A que faz da Vida uma procura e desse aroma uma descoberta. Um dia, também tu poderás conhecer a mais bela flor...

Queiras Sempre enfrentar os caminhos mais inóspitos com a sábia vontade da flor do anonimato encontrar... E, quem sabe um dia não possas nela te demorar... Fazendo dela a Senhora dos Mares onde o teu Ser deixará o Sentir navegar...

sábado, novembro 01, 2008

OUTONO NO PARAÍSO


Aos que a Vida leva para a margem dos Sentidos,

Quantas folhas repousam já no Outono do Paraíso, disformes e sem rosto vagueiam nas mãos da Memória. São alguém nos caminhos da ilusão só porque lhes foi concedido o vazio, o frio descanso na morada do Tempo Eterno. E, choram os amantes sem demora enquanto o violino das emoções solta gritos, famintos gemidos onde habita a saudade. Saudade do que poderia ter tido lugar mas essa linha descosida que tens na palma da mão nunca deixou. Espadas de dois gumes, inertes palavras sem som, quanto sangue derramado sem que soubesses o valor desse sentimento maior, sem que conhecesses a palavra Amor. Já no túmulo onde repousam corpos que outrora sentiram ou julgaram sentir… Viveram ou julgaram viver… Quantos lírios passaram por essa pedra que cobre o teu Ser mas que nunca chegaram até ti para que os pudesses conhecer. É a dor, folha solta do que ficou por viver. Amargura que nunca aprisionou o teu Ser ao Sentir… Por isso, vagueias sem par, Alma errante pelo mundo. Esperas o repouso final alcançar. Mas, quem nunca na Alma teve Paz, quem nunca soube descalço caminhar, jamais saberá descansar. Os anos passam, nessa morada onde o Tempo é rei e as folhas se multiplicam e voam até que um dia, um minuto ou um segundo delas te possas enamorar, eterno Viajante do Universo…

Que um dia possas dizer que no Outono do Paraíso encontraste o que a Vida nunca te quis oferecer. Que acompanhes a deusa do Violino, que do Som que deste instrumento ecoa haja quem veja um Hino do Sentir e que na tua própria sepultura nunca cessem as folhas de te acompanhar porque essa deusa do violino espera na Morte o deus encontrar… Aquele que a Vida não lhe soube dar…