segunda-feira, abril 18, 2016

Pensamentos meus

Depois das rendas rotas o lençol estará gasto:
interrompe todos os lugares que passaste antes
do rompimento. Não vás pelas veredas inóspitas
e insípidas da vida.
E agora? Agora agarra-te ao essencial, desprende
a visão de toda a irrealidade.
Não temas caminhar só. Não temas Ser.
Quem te amar, há-de consertar os lençóis e depois
amar-te dia e noite sobre eles.
Afasta-te das imperfeições e grita, sem limites para
Um céu que te é.

"Pensamentos meus." de Sandra Maria Ferreira

O que já fui.

Apetece-me o calor das palavras por dizer
ainda que entranhadas no ventre.
Apetece-me o silêncio como companhia.
Agora, de hoje em diante, enquanto me for permitido,
deambularei pelo não dizer.
Já me importei se fazias isto ou aquilo. Agora deixo-te
falar, fazer, e todas as ações que queiras de ti, para mim.
Há um objetivo que me preenche - e é puro, sensato,
nada esconde.

"Desafios ao ego." de Sandra Maria Ferreira

sexta-feira, abril 15, 2016

Tristeza

A tristeza

Dizem os olhos que a tristeza é um
lago fundo onde por vezes se mergulha
sem intenção de ficar.

Já fui contente. Já fui triste.
Agora vivo, apenas, de um esgar do teu olhar.

Tristeza irmã da Chuva, parente de Bóreas...
Que é feito de mim? Onde ficaram os abraços
que ainda quero dar?

Tristeza é um desalinho de uma artéria, que sangra.
ou uma estrada em contramão...
"Tristeza". de Sandra Maria Ferreira

terça-feira, abril 12, 2016

"Agora é por papel?" - tento todas as formas.

Agora é por papel?
Neste hoje de asas feridas é por papel que desenho
as palavras que doem.
Deixarei o Tempo adormecer até chover nos telhados
de vidro de que sou feita.
Um dia por conversa mal dialogada, qual monólogo
ou solilóquio em requiem; outro dia por mensagem
de voz ou mensagem escrita num aparelho eletrónico;
outra vez uma mensagem escrita num pedaço de papel
Isso importa? Se em todas as tentativas de comunicar
ou de grito de Alma serei sempre eu?
E a ti o que, realmente, importa? A surdez, as palavras
mortas, o silêncio?
Já te escrevi muitos papéis e gostavas de cada letra.
O que mudou em ti?

segunda-feira, abril 11, 2016

Indagações

Amanhece de cada espaço vazio que trazes em ti.
Esquece as Auroras boreais, deixa as rendas de Murano.
Ergue-te perante o que te é essencial e deixa que
floresçam Rosas fora de Maio.
Ou prefiras os Cardos, com a sua beleza singular.
Desconfia sempre de tudo e de todos pois a verdade
habita só as mentes que se energizam de Amor.
Sejas menos carne e mais Ser: eis o puro sentido das
coisas. E saibas: tudo se pode Amar, basta alargares
os alicerces do teu coração.
Diz-me: habita-te um?

"Indagações" de Sandra Maria Ferreira

quarta-feira, abril 06, 2016

A Metade de um Anjo

A Metade de um Anjo dorme nos meus braços
e a outra Metade fez-se mar em mim.
Olho o Sol, pela meia janela, e pergunto-me se
o Sol brilha para mim.
Fecho os olhos e não durmo, não enquanto se segura
um Anjo no colo, aguento-me no Tempo como
quem busca artérias para Ser.
A Metade de um Anjo dorme nos braços: nunca
um Anjo perfeito dormiu assim.
Ainda buscarei nas orlas do mar, afastando da barca
de Caronte, a outra metade de Anjo. Afogadas as mágoas
regressarei de um Sol qualquer para Ser mais.

De Sandra Maria Ferreira

terça-feira, abril 05, 2016

Tudo ou nada.

No mundo do Tudo ou do Nada há quem visite o mar
e há quem traga um mar dentro ou por perto e nem
o saiba.
No mundo pequeno toda a fragilidade cabe;
No mundo maior todo o egocentrismo impera;
Nestes mundos desiguais talvez escolha a marginalidade
do que vai, lentamente, perdendo a voz.

de Sandra Maria Ferreira