segunda-feira, agosto 25, 2008

ECO SEM VOZ

À memória da minha Madrinha Rosa
"Não me deixes! Não deixes! Não fujas!"
As últimas palavras da minha Madrinha

Não sei como estarás nessa outra parte do mundo, sei que por detrás dessa colina que se eleva aos céus tu cantas com os Anjos para que todos os dias eu possa sorrir. Dás-me força para que eu continue a minha missão. Continuo nesta batalha árdua que é tratar os teus irmãos, nunca os abandonei, nunca fugi, nunca os deixei por mais vontade que tivesse de o fazer, tu e tudo o que tu me ensinaste fazem-me ser assim. Caminho cada vez mais triste, é cada vez mais sombrio o vale que percorro. Cada vez mais me sinto simples, incapaz de sorrir como quando me ofereceste uma pequena caixa de legos, sem querer acertaste no que eu tanto queria. Ou será que sabias? E, como esta lembrança, são tantos os momentos em que me permitiste sorrir. Agradeço-te sem par tudo o que me ofereceste. Eu vou caminhando, desfiando os dias, abraçando a Solidão das Noites... Como gostava de te ver... Abraçar-te-ia como nunca te abracei e voltaria a pegar em ti até que te ouvisse dizer de novo: "Põe-me no chão! Olha que eu caio!" e voltaria a ver o teu sorriso. Agora este banco está vazio, as Rosas desfizeram-se em pétalas e mesmo depois de morta me ensinaste e continuas a ensinar tanto... O valor das coisas ditas no tempo certo, o eco das vozes... Há um ano atrás, o mais triste da minha vida, abraçava a roupa que irias levar nessa caixa de madeira onde repousaria para sempre o teu coração. As coisas que me ensinaste, a falta que sinto de ti. Hoje, um ano passado, já depois de secar algumas lágrimas chegou a altura de te devolver as últimas palavras que me deixaste e pedir-te que me continues a abençoar nessa colina onde moram os que amaram muito e muitos nomes escreveram nas palmas das mãos. Ajuda-me a distinguir o que vem por bem ou por mal e que em cada encruzilhada eu continue a ouvir o eco da tua voz e a saber caminhar com os olhos do coração e a simplicidade dos pés descalços. Voa alto, madrinha! Minha mãe... Dissipa o nevoeiro que me cerca para que eu possa aprender a sorrir...

quarta-feira, agosto 20, 2008

PREçO IMPAR


As cinzas presas em nós, que o Vento não sabe soltar…

Um dia o Sol murchou. Empalideceu o teu rosto, Sonhador Sem Voz. Homem de incautos Sentidos. Na bagagem o som das paisagens que se cruzaram com o teu olhar, réstias de uma melodia entregue nas mãos do Tempo e soltas no Vento… Tudo nasce, tudo vive, tudo morre… Tudo, menos o Amor! Um Amor é chama que arde entre cinzas, escombro de uma Alma ímpar… Amor, a única lei que o Homem não sabe regular. Uma noite a Lua brilha. Com ela um Anjo, Coração Solitário, imagina o que durante o dia o simples Homem não soube apreciar… Há beleza infinita nas cinzas de um rosto, de uma Alma sem voz, de uma Casa sem dono… Ruínas de um Sentir, nada mais pode contrastar as pétalas de Rosa vermelhas aveludadas às quais não chega o fogo, fogueira das vaidades… Há um manto de sons dispersos no Vento, ondas cinzentas que a mágoa não sabe apagar… Há árvores sem ramos, despidas de Sentidos… Há no coração de cada Ser, manchas cinzentas, que o mais sábio e fiel Amor não sabe dispersar… São pétalas vermelhas, foz de um rio que anseia abraçar o mar… E, há nos que não conhecem o valor do Amor, um vazio. Há nos celeiros da Vida, casas abandonadas, telhados em ruínas, cujo preço é ímpar porque neles existe a vontade de Amar.
Quem nunca o Amor conhecer, jamais um pedaço de si deixará arder… Mas, queiras antes conhecer as cinzas pela beleza das pétalas vermelhas do lume que ardeu outrora em ti e saibas Sempre que o verdadeiro Amor são cinzas de um fogo sem nome… Sem preço… Ímpar de Sentidos.