domingo, abril 10, 2011

É Tempo de anoite SER.

by Ben Goossens


"Quando os prazeres nos esgotaram, julgamos haver esgotado os prazeres; e então dizemos que nada pode saciar o coração do homem." Vauvenargues , Luc de Clapiers


Fecho os olhos para te poder sentir no mais alto de mim. Ainda sinto as tuas mãos na minha saia,preta, de veludo. Só não te sinto perto de mim. Mas se me tivesses amado teria sido assim: olhos nos olhos como quem trava uma guerra de décadas. Ainda que não te tocasse nas palmas das mãos, entregar-me-ia por completo.

Saber-te em mim: o sabor.

Deixaria que me levantasses a saia e na nudez do que somos, rasgasses a ferida que tenho aberta. Lentamente, como cada ano passado mas com a voracidade dos beijos. Deixaria que te entrelaçasses em mim, com esse desejo lânguido e húmido. Nesta vontade de te ter em mim: deixar-te-ia entrelaçado em mim, quantas vezes te fosse possível a exaustão. E quando o corpo já cansado e a saia no chão, o meu corpo nu e com o cheiro de amar seriamos apenas um pedaço de vida nas mãos de um deus ou uma fenda, estreita, de luz que sai de uma gruta. Ou esquisso nas mãos de arquitecto… Que importa?

Saber-te em mim: o sabor.

Ah! Não sei. Não aconteceu. Mas ainda te quero perto de mim, dentro de mim, sentir-te com o mesmo desejo de décadas… Intenso, voraz, como um mendigo em busca de pão: é o que sinto, como ferida aberta dentro do coração. Quero-te como a letra de uma canção que fez adoecer o violino e o faz chorar: prazer.

Quero-te com prazer: Saber-te em mim: o sabor.

Esquece os dias, o Tempo, as pessoas, o resto que se faz pó…

Ama-me deste jeito… Abre-me o peito, deslaça o nó. Sente. Não sentes o violino? Ainda chora de prazer por ti… Que importa a palma da mão? Importa que me abraces e que afastes todos os morcegos que trago no peito.

- “Entregas-te?”

Ela disse: já me entreguei. Hoje, apenas, espero essa fenda de luz de ti, em mim.