quarta-feira, janeiro 28, 2009

MALABARISTA - PINTOR

Aos que pintam Sonhos na tela da Vida,

Pintaram a rua de azul. Terá sido um humano, terá sido um querubim? Quem quer que tenha sido sabe pintar sonhos em fitas de cetim. Malabarista-pintor que enfeitaste os sentidos da princesa enquanto dormia e lhe vestiste um manto de pétalas azuis. És um criador de mundos, um estilista de Sentidos, um malabarista de sonhos coloridos, de mundos desconstruídos ou mero pintor de horizontes desconhecidos? Apreciaste as pedras das bermas, tão frias, tão solitárias, quase de emoções enfermas e a infinita estrada, a estrada de Damasco, que parece levar a lugar nenhum, tão cinzenta como a chuva e das tuas observações sentidas deste cor às flores, vida aos amores. Com aguçada visão, saíste de dentro de ti nas mais inóspitas madrugadas, dos sentimentos desenhaste na rua as flores, símbolo dos teus amores e do primeiro orvalho da manhã pintaste as lágrimas do operário dos sentidos, artesão das emoções. Que às vezes vive como uma estrela alva dentro de cada Ser. E, ainda dizem que há simples árvores que são tão-somente troncos inertes que se erguem aos céus e que não passam de figueiras secas. Quanta ilusão. Tamanhos enganos de quem nunca pela estrada da vida se aventurou. Nesta rua pintaram um sonho, coloriram-no de azul. Acorda o Dia já da Noite tão cansado e vê este sonho pintado e nem mesmo ele sabe quem tal façanha terá realizado, se obra sentida, se tela perdida, se pintor ressuscitado das trevas para este mundo que pede cor, para a rua que pede Amor, para a estrada infinita, onde abundam os Amores, onde crescem Amizades, onde brotam Sonhos reais ou de azul, simplesmente pintados.
Terá sido um querubim? Terão sido muitos humanos? Quantos trabalharam este sonho enquanto dormias sossegado? Porventura nele terás também tu, humilde viajante, participado? Ousa, ainda que sem sandálias, caminhar nessa rua cinzenta e avistar os sentidos que moram do outro lado das pétalas azuis. Saibas entrar nos mundos do mundo e demorar-te nas ruas da vida como um Malabarista-Pintor ou um simples pinga amor, que nas pétalas pintadas de azul vê palavras com sabor. Ah! Será que nesta rua, esta noite esteve um escritor?

domingo, janeiro 18, 2009

ORAÇÃO INTENSA

"Quando abrires os olhos não estarei cá, exactamente neste sítio, terei esquecido a nossa falta de exactidão e de muitas outras coisas, a nossa, a muito nossa ausência....Tenho-te ao alcance, só não sei como chegar a ti. Com a boca ou com as mãos?" By Joaquim Pessoa, in Caderno de Exorcismos
Aos que a intensidade torna na cumplicidade, OraÇão Intensa, Amor...

Só nos compreende quem nos ama porque as pessoas medem-se pela intensidade que as une. É quando soltas, Homem, as ameias à razão onde está em clausura o Sentir que intensificas um olhar, gesto perdido e de mãos dadas com a Vida vais percorrendo os Caminhos vazios que te permitem danÇar. Ah! DanÇa Imperfeita mas Oração Intensa... Abrem-se as amarras do pensamento, voam com o Sublime Corvo negro da Paixão todos os Sentidos que as pedras frias e inertes das muralhas do Ser aprisionaram. Quantas Luas por viver? Quantas pedras tropeÇadas? Quantas feridas sem Sabor? Quantas marés terão faltado ao mar para intensificar a grandeza das Noites de quem, no âmago da Solidão, nada mais fez do que Acreditar? Porque tardaste? Terás orado em vão? Ah, os passos amargos da partida, dança sem rosto, ecos de maldiÇão...

Difícil ferida, passos de danÇa errante que só uma OraÇão Intensa mitiga... Ah, a dor da Morte, a Solidão que fica dos que partem... Só vazio, só ausência de cor... Que só a maior oraÇão, a mais intensa sabe a dor afastar... Dança, Homem. Sente! Ama! Porque só no Amor encontrarás a Oração Intensa, a maior... A que à tua Vida, ou meros passos de Dança errante, nos caminhos vazios da Vida, dá calor... Saibas rezar, Homem, a Oração Sublime do Amor.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

A ÁRVORE PERDIDA

Há uma árvore algures. Lugar mágico, com luz própria onde os ramos se erguem aos céus como braços abertos para a dádiva dos Sentidos. Perdeste os braços que te protegem e desde então vagueias pelo espaço sem amparo com a certeza de dobrar as mãos como quem reza na ânsia de plantar a árvore que o tirano e vil Tempo arrancou. Neste frio, regressas ao solstício de Inverno nas mãos de um deus, jardineiro mágico que te ensina técnicas de plantio… Vais meditando. Aprendes as regras do bom cultivo. Às vezes entras nas portas da ilusão porque lá mora todo o teu Ser. Foges da vil realidade que ofusca o Sentir, deleitando-te com a magia dos abraços imaginados que recebes no silêncio das manhãs e nos orvalhos da noite. Dormes nos braços da magia, celeste árvore dos Sentidos. Envergas vestes de veludo, és parente das folhas que caem sem dono no frio húmus das sensações, apenas partilhadas pelos deuses numa Terra sem rosto, num mar de encalhados desejos… Onde repousam os Sentidos? Quantos desejos levam as ondas ao mar? Quantas folhas, filhas da árvore perdida insistem na Terra repousar? E há Almas que sonham acordadas outras que pensam sonhar nos berços da noite… Tantas Almas enamoradas que o vil Tempo um dia afastou. E, já de braços cruzados e a cabeça curvada em gesto de prece, junto da árvore imaginada, árvore pedida continua a Bailarina dos Gestos à espera que lhe digam que não há árvores perdidas, apenas desencontros que pisam o mesmo húmus procurando a árvore pedida.

Porque quem medita e se deixa levar nas mãos da prece sabe que um dia algo acontece. Talvez por isso a Bailarina dos Gestos no mundo dos Sonhos vive e do resto apaga o Sentir para o mundo que, simplesmente, a esquece.