Sem abrigo
Quebra-se o encantoEterna e a Noite
Quebra-se o encanto
Ao Gigante das dores que impede de Sonhar pede a fragil Ternura encantos mil, delicadas fragrancias no ar... Trava batalhas num campo onde nunca a ensinaram a lutar, desce colinas, sobe numa nuvem de harmonia ao imenso ceu e veste o caminho, por onde passa o pobre caminhante, de negro e denso veu... Multiplas pistas deixa no escurecer... Pobre e o que nao sente ou o que nao quer ver! Quanta beleza, cada pedra lapidada de dor, cada estrela no ceu um pensamento do mais fino e puro Amor... Cada tronco da Tilia onde esta gravado um Amor... Um Amor que pede autor...
Sonhos voam com o Vento, sentem-se vindos de um Coraçao que sangra de dor, Coraçao que pede Amor...Sonhos inspiram o poeta, o escritor, nascem num vale fertil de emoçoes, regam pela manha com Orvalho as flores, incendeiam o dia de cores, dao ao Ser Humano mil Sabores...
A mais bela fechadura do Ser Humano esta na Natureza do Sentimento. A chave do Sabor esta no Coraçao de quem se entrega ao Sonho e lapida nos troncos das arvores amores, solta nas penas dos passaros feridas que ajudam a Sentir... Ha fechaduras misterio que poucos conhecem e quem por la passa gosta de se demorar nas nuvens da eterna Beleza da emoçao.
Agradeço a todos os que passam
Do pousio do Coraçao
Cresci com quatro tias-avos paternas, Rosa, Dolores, Joaquina e Julia. Solteiras com idades entre 70-87. Ensinaram-me a andar, falar, todas noites rezava o terço, pela manha fazia as oraçoes do dia. Na casa delas, a minha casa aprendi a lidar com a cegueira, sendo a mais idosa, invisual desde tenra idade. Com ela aprendi o que nenhuma universidade pode alguma vez dar... Protegeram-me muito, valeram-me nos anos mais dificeis da minha vida, a minha infancia, anos marcados pela dor de nunca ter vivido com os meus pais e de ao mesmo tempo ter de enfrentar duras situaçoes familiares que me levaram a depender de medicamentos para o sistema nervoso, dos quais ainda hoje dependo... Sobrevivi, com magoas e muita fragilidade. So o sofrimento, a dor permite modelar a personalidade... Assim me fui formando. Sempre perdida no meu mundo, incompreendida, cedo despertei para a escrita. Recordo uma gaveta cheia de papeis que eu escrevia, desabafos com o papel, a minha primeira forma de escrita... Uma escrita nao de inspiraçoes, mas de Sentimentos. Desde sempre os abalos do meu Ser me fizeram uma inadaptada, indecisa... Porem,muito comunicativa, sempre me interessaram os outros, sempre os coloquei no primeiro lugar... Meu Deus, quantas vezes me esqueci de mim? Quantas sao as vezes que ainda me esqueço? Hoje, tenho a mesma dependencia dos outros, nao por mim, mas pelo que eu sou para eles. Dois tios-avos, juntando-se um tio-avo viuvo e sem filhos, as irmas, dependem diariamente de mim para os alimentar, tratar, trocar as fraldas,verificar se sao bem alimentados, fazer compras, ir as farmacias, visitar os medicos, orientar funcionarias, cicatrizar as feridas externas e as internas que os tios vao ganhando... Com eles continuo a aprender, a sofrer, a crescer... Nao precisava de crescer tanto! Tao dificil esta aprendizagem, cujo diploma e o Amor. Nele assento tudo o que faço. Esqueço-me de mim, deito-me a pensar se aconcheguei bem a roupa dos tios-avos antes de os deitar, a noite cai e todas as noites a mesma pergunta me assola: "quando os verei pela ultima vez?" Nao estou preparada, detesto despedidas. Mas algo eu acredito que um dia o Sonho me compensara, as cicatrizes interiores que tenho serao menores e quem sabe eu nao me torne a criança que nunca fui, viva o que nunca vivi, tenha quem tome conta de mim... Talvez ja tenha aprendido a tomar conta de mim, a pensar em mim e deixe que o outro se encarregue de me fazer feliz, quem sabe?
Vejo o Amor nas maos dos outros
No seio desta vasta floresta
As vezes voa o meu pensamento, desce da montanha para o lago, sinto-me princesa de um castelo abandonado, as vezes os sentimentos sao lanças que impedem o meu coraçao de sorrir tanto como a minha voz... Necessidade de ouvir as mansas palavras da cotovia que me visita e me mostra sonhos que tanto anseio. Nunca gostei de viver em castelos, gosto de desbravar os caminhos que me levam ate ao dono deles, saber quem os construiu e porque... Gosto de me perder nas imagens da natureza, a espera de encontrar o meu interior, ouvir no sussurrar do Vento, simples palavras de amor...
Singular beleza nas margens do lago encantado, etereas arvores dançam ao entardecer uma valsa. Quantas folhas que voam, nao tocam o ceu? Quantas sao as palavras vas que usa a ilusao? Nao gosto dela, nunca gostarei... Caminho nos trilhos do essencial. Nao ves que pequenos gestos me dao serenidade? Nao, es inconstante como o Vento, as vezes tocas-me de mansinho e sinto tao perto a tua presença, outras magoas-me com a tua ausencia... Sinto falta desse manto de fetos verdes que me apaziguam a Alma, ao longe avisto-te rodeado de misterio, tanta saudade de visitar cada lugar do teu ser, cada canto teu... Olho para esse castelo de sentimentos, junto ao lago, perto do ceu,
as lanças que nele existem, quem as lança a ti sou eu... Sou misterio desvendado, simples Alma presa ao feitiço de Amar e que insiste na procura dessas labaredas de ternura encontrar... Ja tarde vai o dia, cansado de te procurar, regressa a rubra cor ao ceu, visto o meu ser de verdes esperanças, voltam as lembranças... Saudade desses primeiros orvalhos matinais, dessa estrada da Vida que me conduz do vulcao explosivo do fim do dia, ao branco matinal, luz...
Quantos pedidos ficam na voz do Vento? Quantas mensagens te entregou o enviado meu? Eu, simplesmente, espero regressar a esse bosque verde de encantos... Perdida no meio do nada, saboreio os leitos do ser, sou fada da natureza, em castelos nao sei viver... Mas, e nessa imagem do vale de fetos, nessa ermida perto do ceu, que vejo frutos silvestres crescerem e que elevam o meu animo nas maos de um Anjo que me faz bradar, pedir morada ao ceu... Duas amoras vermelhas, nas maos dessa ilusao... Ao que os outros chamam Tempo, eu apelido de espaço, distancia, caule de sentidos, onde brota a seiva da Vida, nectar do verde Amor,
Noite, leva-me contigo nos teus sonhos, deita-me ao lado da Magia. Ensina-me a sentir o toque do gesto verdadeiro, ha tanto tempo que a dor me acorrenta... Maos presas, sem liberdade de gestos, coraçao sofredor,frias correntes, elos de dor...Anjo negro submerso nas paredes de um ser que perdeu o toque, ser abandonado no leito dos mortais, ate quando vives submersa na ardosia do feitiço que enlutou o teu ser? Devolve-me a Vida, preciso de sentir, ver o que o mero olhar nao permite, distinguir o toque fingido do toque sentido... Levanta as minhas asas, devolve-me ao ceu, deita-me nos verdes prados, enxuga as minhas lagrimas, lava cada fio do meu cabelo com petalas de camomila, separa o falso sentido e sepulta-o com lapides de pedra escura... Nao ves como abraço o meu peito, tao preso aos fantasmas... Quantas luas vao passando e o rochedo de Sisifo continua resvalando? Enfrenta estes elos da amarga e fria corrente como degraus que descem ao poço do meu sentir, "por vezes encontramos de nos em poucos meses o que a noite nos fez em muitos anos. E por vezes fingimos que lembramos, e por vezes lembramos que por vezes ao tomarmos o gosto aos oceanos, so o sarro das noites nao dos meses la no fundo dos copos encontramos, e por vezes sorrimos ou choramos, e por vezes ah por vezes num segundo se evolam tantos anos". David Mourao- Ferreira
Quando o Sol ja nao for uma estrela e as montanhas deixarem de ter neve, descerao sobre a Terra todos os passaros, alegremente cantando, muito confiantes de que o Amor ira prosperar sobre os leitos de urze, num vale de fetos, ao sabor da terra humida... Todas as flores desabrocharao e a Terra sera coberta de um manto de lindas cores cintilantes, as cores do Amor. O cheiro das Rosas e do Jasmim juntar-se-a ao aroma das Laranjeiras em flor e todo o mundo sera a metafora da petala esvoaçante, sendo ela mesma a Personificaçao do Amor. E tu, Mulher, guardaras em ti a imagem de um instante: Quando o azul do ceu, tocar o azul do mar tudo acontecera num breve e sentido pestanejar...
Irmao das Hesperides, de Morfeu, juntas as Erinias valsam contigo, carregam-te no colo com medo do que lhes traras... So Lissa nao te teme porque a liberdade da loucura permite evasao, ser louco e ver com olhos que amam, tocar com suavidade o que pobres e comuns Almas rudes desprezam, e lidar com a dor sem a Sentir... O que e belo nao morre, sofre uma mutaçao, transforma-se noutra beleza... Quanta verdade! Como pode a Beleza morrer?